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Faz tu

Bilhete Postal

A revolução individual traduz-se numa caminhada singular onde sem protesto mudamos o mundo, mudando-nos a nós próprios. Cumpro as regras da piscina, as regras do trânsito, chego a horas, uso de cortesia e educação, respeito quer as pessoas quer os animais ou a natureza. Não sujo, não arrumo fora do lugar, não vocifero, espero a minha vez, não uso de expedientes ou cunhas. A revolução conseguida desta forma é um processo religioso. Tentamos mudar educando e servindo de exemplo, por vezes explicando a opção e tentando que adiram outros ao processo. De modo egocêntrico vamos engrossando a coluna moral e de bons costumes através do grupo a que aderimos e tentamos multiplicar. A força da missão é agregar à fé, os que falham constantemente. A força das congregações religiosas anda muito neste ideal missionário em que espalham a mensagem e esta é normalmente de identidade pessoal, única, singular. A revolução está em acreditar, aderir e depois replicar o comportamento e os símbolos identitários.

“Faz também” é o trabalho, “faço eu” é a missão. A revolução colocada deste modo é silenciosa, não provoca violência nem arrasta prejuízo a nada nem a ninguém. De modo surpreendente sabemos que a intolerância coletiva pode ser tão complexa que até esta revolução individual e missionária leva a perseguições e a situações de exclusão. A fé que não respeita a fronteira está em tudo o que nos distingue do outro e descrevemos na identificação dos bilhetes de identidade. Há intolerância e intencional prejuízo do sexo à raça, da idade à origem. O fanatismo pode ser político, religioso, sexista, nacionalista, racista. Há fanatismo comportamental, fanatismo judicial. O que não podemos negar é que a revolução de um só pode ser fanática, mas existe numa redoma que é só dele e assim como um perfume pode deitar cheiro mas não nos ofende.

Por: Diogo Cabrita

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