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Fátima – Terra de Fé

Para mim, as religiões são algo de confuso e contraditório. Da teoria à prática, há uma distância abissal. (…). Daí termos uma Fátima imponente, rica, faustosa…

Foi para isto que Jesus Cristo perdeu o seu tempo a pregar? E a pregar o quê? Se ainda sei ler e do que li, o que aprendi foi isto: Ele, acima de tudo, veio pregar o amor ao próximo. (…) Não há nenhuma passagem na Bíblia onde Jesus Cristo esteja empenhado em que lhe seja erigido qualquer grande monumento, Ele que pregou toda a sua doutrina em sistema nómada e numa grande pobreza. (…). E no Templo, perante os sacerdotes, expulsou os vendilhões (…).

E o que é hoje Fátima? Para quê erigir sumptuosas catedrais quando o mundo à nossa volta se desmorona em tantas misérias, quando o próprio Papa alerta os Governos para que se inter-ajudem nos problemas relacionados com a sida que grassa cada vez mais nos países do Terceiro Mundo e não só. Considero que a frase, bem conhecida, “Bem prega Frei Tomás” serve para toda e qualquer religião do nosso tempo, porque, pregar não custa, o que custa é cumprir com as regras básicas de cada uma delas, que para começo são todas boas, todas ensinam o amor ao próximo. Mas na prática? Como se demonstra esse amor ao próximo?

É esquivando-se quando se tem conhecimento de que alguém está em dificuldades? É sabendo que um vizinho tem graves problemas familiares e não se dá ao incómodo de intervir? É sabendo de maus tratos infligidos a crianças e não os denunciando para não se imiscuir no caso? E sabendo que alguém está em dificuldades financeiras (desde que não ocasionadas por extravagâncias) continuando a gastar em tudo o que sejam futilidades a seu bel-prazer, não dando uma mão de ajuda? E quando ao domingo vai “cumprir” com o que manda a Santa Madre Igreja, consegue ludibriar a sua consciência, pensando resignadamente que não pode resolver os problemas do mundo? Pois não, mas pode resolver alguns que estejam perto de si, até à sua porta!

Li o artigo do senhor António Nascimento, na edição de 11 de Outubro de “O Interior”, e fiquei sensibilizada com a sua ideia de se criar um Mealheiro Comunitário – quanto a mim a nível das Juntas de Freguesia e da responsabilidade do seu presidente – exclusivamente para fins sociais em que se desse prioridade às situações de maior necessidade. Como o senhor referiu: ajuda para comprar uns livros numa família mais necessitada, uma viagem para ida a uma consulta de especialidade que não seja comparticipada, enfim, pequenas ajudas que por vezes tornam a vida de quem sempre precisa bastante facilitada.

E tudo isto é tão pouco ao pé do que se gasta para fazer uma romaria e admirar o fausto, a opulência e riqueza de todas as catedrais que se lembrem de erigir e que são uma ofensa à miséria.

Zelinda Rente, Freches (Trancoso)

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