Já passaram mais de dois anos desde que Firmino Monteiro se mudou para as traseiras da antiga fábrica Tavares, no Rio Diz. A necessidade fez o engenho e, na altura, construiu três barracas onde ainda reside, juntamente com a família, que, além de pobre, é numerosa.
Para além da companheira, Maria Ivone, de 29 anos, vivem no local os três filhos (e respectivos companheiros) de Firmino Monteiro, para além dos netos. No total, vão sentar-se à mesa, este Natal, três crianças e oito adultos. Como se já não bastasse, em breve vão nascer três novos membros da família – dois ainda este mês e um outro em Janeiro.
Regressado do Porto há dois anos, o patriarca não encontrou tecto na Guarda. A sorte virou-lhe as costas, bem como familiares e amigos. Assim, nos últimos dois anos, Firmino Monteiro tem-se dedicado à construção e ao melhoramento dos pequenos abrigos. No interior, tudo foi construído e inventado por si, desde a lareira às camas improvisadas, que nasceram do «restauro de materiais que encontrou no ferro velho», conta. O dinheiro é que não sobeja. Os agregados vivem do Rendimento Social de Inserção (RSI) e, este ano, nem sabem se o subsídio vai chegar «antes da consoada». «Antes ainda ia fazendo uns biscate pelas aldeias a recolher ferro velho, mas apanhei um problema de coluna e agora não posso», lamenta o chefe de família. Agora, sem trabalho, as coisas pioraram e o problema da falta de tecto agrava-se de dia para dia. «Uma vez já cá vieram pedir para sairmos daqui, mas para onde é que havemos de ir, para debaixo da ponte?», interroga-se, por seu turno, Maria Ivone. Só que, apesar deste “apego” ao lar, a verdade é que, para além de deixarem entrar o frio e a chuva, os abrigos não têm água, luz, gás ou esgotos.
Guardenses solidários
O caso está a ser acompanhado pela equipa de RSI do Núcleo Desportivo e Social (NDS), da Guarda-Gare. Sensibilizada com a situação, a associação está a apelar, há já mais de duas semanas, à ajuda dos guardenses. «A solução ideal seria mesmo a habitação social», defende Lara Ferreira, técnica social. Mas enquanto essa possibilidade não pode ser realizada, a campanha de solidariedade está a dar frutos. Nas últimas semanas, têm chegado à sede do NDS vários apoios. «Muita gente até tem trazido roupa nova. Quem não tem vai comprar», adianta a responsável. Já foram conseguidos donativos maiores, como um carrinho e duas cadeiras de bebé. Isto para além de mais de uma dezena de cobertores e «muita roupa», quantifica a responsável. «Têm aderido à campanha, sobretudo, idosos e casais com filhos pequenos, que já não precisam de determinados objectos», revela. Mas, apesar desta onda de solidariedade, a ajuda ainda é insuficiente. Por isso, o fim da campanha não tem data marcada. «Enquanto houver quem queira contribuir, a recolha mantém-se», recorda Lara Ferreira. Já que mais não seja porque aquilo que não for entregue a esta família carenciada terá outro destino. «Temos 10 grávidas com dificuldades sinalizadas», acrescenta a técnica.
Por agora, a responsável refere que o que mais faz falta são «fraldas e produtos de higiene». As doações devem ser entregues na sede da instituição, no Centro Cultural e Social de S. Miguel (edifício da PSP e da Junta de Freguesia) no 2º piso. Actualmente, o NDS é responsável pelo acompanhamento de 135 agregados familiares, residentes na freguesia de S. Miguel e em metade das freguesias rurais do concelho, no âmbito de um protocolo celebrado com o Centro Distrital de Segurança Social.
Rosa Ramos