Arquivo

«Falta vontade política para desenvolver o interior»

Cara a Cara – Entrevista

Perfil:

José Pires Manso

Coordenador do Observatório para o Desenvolvimento Social e Económico da UBI

Idade: 53 anos

Profissão: Professor catedrático em Economia na UBI

Currículo: Licenciado em Economia, mestre em Economia da Energia e do Ambiente, doutorado em Economia pelo Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade Técnica de Lisboa; agregação na área da economia da energia e professor catedrático na UBI

Hobbies: Ler, escrever, construção civil, passear, fotografia

P- É o único catedrático em economia na Universidade da Beira Interior (UBI). Que contributos poderá dar ao curso?

R- Os objectivos do ministério apontam para que cerca de 60 por cento dos docentes sejam doutorados. É desejável que as instituições do ensino superior preencham os seus quadros com pessoal doutorado repartido por professores auxiliares, associados e catedráticos no esquema piramidal. Se tivermos um corpo catedrático grande dá mais prestígio ao curso, à universidade e à região. É um salto qualitativo que a universidade está a dar.

P- Também coordena o Observatório para o Desenvolvimento Económico e Social.

R- Foi criado há pouco mais de um ano com verbas do Programa Equal, no âmbito do projecto ReAdapt. Entre as várias acções, propôs-se a criação deste observatório com o objectivo de realizar estudos com incidência económico-social na região. Nesse sentido, temos feito uma consulta mensal aos trabalhadores do concelho para constituir um barómetro social e conhecer o seu pensamento em relação ao momento. Fazemos a apresentação mensal aos outros parceiros (Anil, Cilan, Civec, Câmara da Covilhã, Global Change, Sindetex) alertando-os para alguma necessidade de intervenção. Também realizamos mensalmente um barómetro empresarial através de um inquérito dirigido aos sectores que consideramos mais importantes na região, auscultando-os sobre o que pensam da situação no momento. Com isso, vamo-nos apercebendo do sentimento dos empresários sobre a conjuntura empresarial na região. O objectivo é o mesmo, ou seja, assim que se detecta algum indício de uma eventual crise, alertamos as entidades respectivas.

P-E qual é o diagnóstico desses barómetros?

R- A região tem estado a afastar-se um pouco da média nacional. O Governo anterior tomou algumas medidas de estímulo ao interior, mas o actual não mostrou ainda o mesmo empenho. Se pegarmos nos últimos valores do Instituto Nacional de Estatística (INE) vê-se que a região tem estado a atrasar-se em relação à média nacional. É evidente que há alguns indicadores positivos que vão trazer reflexos bastante importantes à região, caso da criação da Faculdade de Medicina, das auto-estradas e de alguma modernização – embora limitada – na Linha da Beira Baixa. Mas é facto que nas estatísticas ainda não se nota nenhuma inflação na trajectória de desenvolvimento da região.

P- Que factores atrasam o nosso desenvolvimento?

R- Estou convencido que é, acima de tudo, a falta de vontade política. A política de desenvolvimento em Portugal tem apontado para o desenvolvimento do litoral, na faixa entre Setúbal e Braga, abandonando bastante as regiões do interior. As aglomerações que têm resistido de alguma forma são as cidades que têm progredido em número de habitantes, mas se nos afastarmos 10 ou 15 quilómetros verificamos que elas estão a perder muita população. Falta uma vontade política em conceder incentivos fiscais, financeiros e outros às empresas da região para que elas se instalem, criem postos de trabalho e fomentem novamente o repovoamento do interior. O Governo anterior baixou a taxa de IRC, o actual anulou essa redução com o ministro da Economia a dizer recentemente que não se justificavam apoios extraordinários às regiões carenciadas do interior, que representa cerca de quatro quintos do país, pois a 50 quilómetros do litoral os problemas são exactamente os da Cova da Beira. Na minha óptica, têm que se apoiar os projectos que vão aparecendo, como o Parkurbis, os parques industriais e a Plataforma Logística de Iniciativa Empresarial (PLIE) da Guarda, e conceder isenções totais ou parciais de IRC, de contribuições para a providência e outros estímulos para que as empresas se instalem no interior. Se não se fizer nada a prazo, vamos ter a concentração de 44 por cento da população na região de Lisboa e Vale do Tejo e nem as regiões relativamente dinâmicas, como o Porto, escapam a essa macrocefalia. Isso é extremamente preocupante porque desertifica o interior, sobrepovoa aquela zona, agravando desnecessariamente todos aqueles problemas que Lisboa e arredores começam a ter – como a falta de estradas, necessidade de novas pontes sobre o Tejo, falta de habitação.

Sobre o autor

Leave a Reply