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Falta gestão urbanística à Guarda

O planeamento urbanístico de uma área citadina, e da sua envolvente de influência, assenta essencialmente em processos de estruturação e de apropriação do espaço. E, enquanto gestão de um bem público, deverá dedicar-se a projetos que melhorem e valorizem os espaços em questão, proporcionando aos seus habitantes uma melhor qualidade de vida.

A maior ou menor importância destes processos, bem como a sua complexidade, varia de acordo com a ambição política que quem os lança quer assumir. E, claro!, tem a ver com o volume de investimento necessário e com o retorno económico que os projetos podem (ou não) potenciar para as economias locais ou nacional.

Mas se planear é fundamentalmente dar início a um processo, executá-lo é que é crucial: só depois de construídas ou melhoradas as infraestruturas, os cidadãos podem fruí-las e as empresas servirem-se delas para rentabilizar os seus negócios.

Numa análise urbanística breve à Guarda, constata-se que, com o crescimento verificado nas últimas três décadas, predomina um estrangulamento: a ligação automóvel entre o núcleo central da cidade e o seu grande polo a Nascente, conhecido por Guarda-Gare. Quando se trata de grandes metrópoles, com 10, 15 e 20 milhões de habitantes, ainda se compreende que haja filas de trânsito. Porém, se tal sucede numa vulgar cidade média como a Guarda, isso apenas se deve a falta de planeamento – ou à não concretização do que se planeou.

A projetada variante da Sequeira é, por isso, vital para a segurança dos cidadãos e fluidez do trânsito. Não faz sentido que, tantos quadros comunitários depois, uma cidade como a Guarda tenha um só ponto de atravessamento da linha férrea. E que, para se circular entre os seus dois principais núcleos, se tenha de utilizar parte do traçado de uma estrada nacional e uma ponte construída no tempo do Estado Novo.

Este caso não é, infelizmente, o único bloqueio urbanístico da cidade.

A área do antigo quartel e envolvente do convento de São Francisco – área nobre e fadada para ser uma centralidade – não passa de um constrangimento, impedindo a interligação de vias, espaços verdes e habitação. Pontos próximos estão de costas voltadas e distantes entre si. Ocupada em grande parte por um quartel da Guarda Nacional Republicana, disfuncional e desadequado às funções desse corpo, este necessita de mudar de local com urgência.

É preciso desatar este nó da cidade. Não faz sentido esta continuar privada de um espaço que, porventura, é o que tem mais potencial. Um exemplo de que pouquíssimos guardenses têm conhecimento: existe uma portaria nobre do convento, escondida por detrás de construções amontoadas e fora de contexto, sem que aquele conjunto possa beneficiar da sua beleza e os cidadãos dela usufruir.

A projetada alameda entre a “rotunda dos 5 ef’s” e a rotunda junto às piscinas é, também, essencial para integrar de pleno a Via de Cintura Externa da Guarda (VICEG) na malha viária urbana e dar um entrada digna desse nome ao lado Nascente da cidade. Isso permitiria, aliás, integrar terrenos desaproveitados e esteticamente feios, beneficiando-os com o novo contexto e melhorando o conjunto. Acresce que esta obra permitiria encurtar distâncias: não só a física, como a de tempo. E reforçaria o sentimento de pertença afetiva que vários núcleos periféricos têm em relação à cidade.

Tratam-se de investimentos sérios, mas cujo retorno ultrapassará em muito o investimento inicial. A Guarda tem dimensão para ser gerida como um sistema, em que todas as partes se podem interligar, dependendo e complementando-se umas às outras, formando um todo.

Para que isso suceda, falta planear melhor. E, sobretudo, falta concretizar o que se planeia.

Por: Acácio Pereira

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