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Existência de ratos no Sousa Martins é um «facto banal»

Administração desvaloriza o caso, mas admite que ainda no início deste ano a cozinha do hospital teve que ser desinfestada

A abundância de ratos no seu local de trabalho foi uma das razões que levaram um funcionário da cozinha do Hospital Sousa Martins, com os nervos “à flor da pele”, a recorrer há uns tempos atrás a uma consulta de clínica geral. Segundo fonte contactada por “O Interior”, tratou-se do próprio cozinheiro, recentemente chegado à Guarda, que logo no primeiro dia de trabalho terá deparado com um “regimento” de ratos a passear-se por aquele espaço. O que mais o terá irritado foi a reacção dos colegas que olharam para tal facto «com a maior descontracção», até porque haveria um funcionário da cozinha incumbido de a desparasitar e de abater os roedores.

Na verdade, mais do que uma fonte confirmou este cenário a “O Interior”, tendo um funcionário, que pediu para não ser identificado, referido que a existência de ratos na cozinha do Sousa Martins «é do conhecimento de toda a gente», sendo até considerado como um «facto banal». Outra fonte, que almoça quase diariamente no refeitório do hospital, explica que nesta secção «não há condições luxuosas, mas come-se normal». Embora não saiba o que se passa dentro da cozinha, admite que «é possível que exista» tal situação. É que há dois anos atrás essa mesma fonte fazia parte da Comissão de Higiene do HSM e recorda ter então sido feita uma inspecção e desinfestação pela Delegação de Saúde, que apontou algumas alterações, mas «como é tudo muito lento neste hospital, o tempo passava e as coisas não se concretizavam», refere. «Hoje não sei como estão as coisas, mas é possível que essa situação se verifique porque são instalações muito antigas», acrescenta a mesma fonte.

Quem nega a existência destes animais é o administrador-delegado do hospital, para quem estes «boatos» advêm das «más línguas». Luís Figueiredo garante que este cenário «não se verifica», mas já se verificou «no início deste ano», uma vez que a cozinha «nunca» teve obras estruturais e os problemas foram-se arrastando de ano para ano e hoje «são grandes». O responsável admite, todavia, que quando a epidemia de ratos foi detectada na cozinha, foi «imediatamente» activada a Comissão de Higiene e Desinfecção hospitalar para intervir num espaço próximo da cozinha que «nunca tinha sido limpa». «Até a mim me custou lá entrar», recorda o administrador-delegado, alertando que só nessa semana foram realizadas quatro desinfecções no local e daí para cá «nunca mais houve problema», afiança. Se houve ou não, ninguém o quer confirmar à luz do dia. O que se sabe é que a cozinha do Sousa Martins vai encerrar duas semanas para obras, embora José Valbom, da Delegação de Saúde da Guarda, diga a “O Interior” que tal não acontece pela existência dos ratos. Aquela entidade foi recentemente convidada a acompanhar a Inspecção das Actividades Económicas numa visita de rotina às instalações do hospital.

«O que vimos foi muita falta de condições estruturais, porque são instalações muito antigas e precisam de alterações profundas», revela Valbom, tendo os dois organismos pedido que, «logo que possível», a cozinha fosse encerrada, passando a alimentação a ser assegurada num espaço alternativo. «Não se consegue cozinhar em condições de higiene com as obras em funcionamento», garante o médico. Já na passada sexta-feira, a Delegação de Saúde emitiu uma diligência à administração do hospital para que parasse as obras enquanto não encontrassem outro espaço para confeccionar as cerca de 500 refeições diárias. É que aquela área precisa de intervenções «de fundo que não se compadecem com o seu normal funcionamento», explica Valbom, tendo solicitado que mantivessem «tudo o mais higienizado possível».

Refeições do HSM poderão ser feitas no IPG

Resta agora esperar que a administração do Sousa Martins e o Instituto Politécnico da Guarda cheguem a um acordo para que disponibilize as instalações da cantina situada junto às residências, no centro da cidade, para que todas as refeições do hospital ali sejam confeccionadas. «Ou mudamos nas condições certas ou não vale a pena», realça Luís Figueiredo. Recorde-se que numa primeira fase as negociações estavam a ser encetadas com a Casa de Saúde Bento Menni, mas como «não houve muita receptividade», a administração decidiu virar-se para o IPG que tem duas cozinhas e se mostrou disponível «desde o início», conta o responsável. Em princípio, a cozinha do hospital apenas ficará encerrada duas semanas, tanto quanto durarão as obras de pintura e vedações de paredes, substituição de arcas frigoríficas e colocação de um tecto falso. Depois disso, a Delegação de Saúde e a Inspecção das Actividades Económicas farão uma nova vistoria para averiguar se a cozinha poderá voltar a laborar. Mas Valbom alerta: «Ou fazem um investimento de grande vulto ou não fica bom».

Ainda assim, Figueiredo revela que «nunca» esteve em causa a higiene da cozinha, se bem que agora é «remendar o que não tem remédio», admite, referindo que o ideal seria reestruturar todo o equipamento com um novo refeitório, mas «falando-se agora do novo hospital da Guarda não vale a pena», defende. O responsável informa ainda que existe um projecto de 675 mil euros para essas obras, mas falta serem incluídos no Plano de Investimentos, Desenvolvimento e Despesas da Administração Central (PIDDAC).

Medicinas com água imprópria

Também a qualidade da água no Sousa Martins deixa muito a desejar. Na parte antiga do edifício, mais propriamente nas Medicinas, já foi proibido o seu consumo a funcionários e doentes devido à falta de cloro. «No edifício antigo apenas se pode beber água engarrafada», conta Luís Figueiredo, explicando que a administração proibiu, através de uma circular, as pessoas de consumirem água da rede. Na cozinha essa situação não se verifica, por se situar à entrada do edifício, além de que a fervura «elimina as bactérias», diz, explicando que também existe um orçamento para substituir as canalizações, que ascende a 325 mil euros, mas «se gastamos oito mil euros por ano em água engarrafada, acho que seria um mau investimento para já. Também aí vamos esperar pelo hospital novo», conclui Figueiredo.

Rita Lopes

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