Arquivo

Exemplos

Mitocôndrias e Quasares

Ao longo dos anos fomos sendo, repetidamente, bombardeados por afirmações, que tendo por base a ciência, se tornaram inquestionáveis aos olhos da grande maioria dos indivíduos.

Estas ideias surgiram de diversos estudos e foram ganhando adeptos ao longo dos tempos até se tornarem linhas orientadoras de comportamentos humanos. Muitas afirmações que sustentavam a linha de pensamento eram, à época, bastante polémicas dentro da classe científica. O que proponho para hoje é dar a conhecer três estudos de diferentes autores que põem em causa algumas das orientações que seguimos diariamente e que poderão, no futuro, alterar o modo de pensar e agir dos indivíduos.

O primeiro exemplo vem da UCLA (Universidade da Califórnia, Los Angeles), onde os investigadores desta unidade atestam que as mulheres que bebem pelo menos quatro chávenas de café por dia possuem menos de metade da probabilidade de desenvolver diabetes comparativamente com as não consumidoras de café. Atsushi Goto e Simin Liu, utilizaram 359 novos casos de diabetes, associados a 359 controlos aparentemente saudáveis para mostrar que o consumo de café aumenta os níveis plasmáticos de uma proteína chamada SHBG. Esta regulamenta a actividade biológica das hormonas sexuais, testosterona e estrogénio, que intervêm no desenvolvimento da diabetes tipo 2. Descobriram também que as mulheres portadoras da mutação do gene que provocava o aumento dos níveis plasmáticos de SHBG no sangue eram as mais beneficiadas com o consumo de café.

Um outro estudo, este publicado na revista científica “Circulation”, realizado por membros do Instituto de Investigações Biomédicas August Pi i Suñer, em Barcelona, e realizado em ratos, veio alertar para o perigo de praticar actividades de resistência de uma forma intensa, pois, nalguns casos, tornam-se prejudiciais ao coração. Segundo os dados obtidos, este tipo de exercício pode provocar alterações na estrutura e no funcionamento do coração, favorecendo o aparecimento de arritmias.

Apesar dos resultados deste estudo não serem totalmente originais, uma vez que já se sabia das mudanças físicas na anatomia do coração, este é o primeiro trabalho no qual se demonstra que a actividade física intensa e mantida durante muito tempo, pode ter impactos negativos.

Segundo os autores da publicação, este risco potencial não afecta pessoas que praticam exercício moderado de forma regular, mas aquelas que o fazem de uma forma muito intensa há duas ou três décadas.

Por fim, um estudo realizado por investigadores alemães afirma que é um mito o facto de se acreditar que o pequeno-almoço é a refeição mais importante do dia e que comer mais de manhã significa consumir menos calorias ao longo do dia. A investigação publicada no “Nutrition Journal” revela que a quantidade não é reduzida durante o almoço e o jantar e que a necessidade de mais calorias não é suprimida.

Para o efeito, os cientistas seguiram um grupo de 400 pessoas durante duas semanas e os pacientes registavam em diário aquilo que comiam, os horários das refeições e o que pesavam na altura. Alguns tinham um grande pequeno-almoço, outros comiam de forma regrada e os restantes saltavam-no. Os primeiros consumiam umas 400 calorias durante a primeira refeição do dia e verificou-se que no final do dia tinham consumido precisamente 400 calorias a mais do que os outros, no final do dia.

Deste modo, o investigadores referiram que um pequeno-almoço reforçado não é sinal de menos ingestão de calorias ao longo do dia. Apesar destes resultados, os investigadores reafirmam a importância da refeição matinal.

Estes três estudos mostram como na ciência não há lugares para dogmas instalados, havendo sempre lugar ao contraditório, sempre que devidamente contextualizado.

Por: António Costa

Exemplos

Sobre o autor

Leave a Reply