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Executivo e Carlos Pinto “debaixo de fogo”

CDU e PS não pouparam críticas às orientações da maioria social-democrata nas comemorações do 133º aniversário da Covilhã

A troca de acusações e críticas entre a oposição e o edil covilhanense pautaram segunda-feira a Assembleia Municipal comemorativa dos 133 anos de elevação da Covilhã a cidade. Os comunistas foram, à semelhança do ano transacto, os que mais “apontaram o dedo” às orientações da maioria social-democrata para o município, acusando-a de ser «autista e acintosa» na forma como lida com a crítica e a opinião diversa. «Fazer cidade não pode ser entendido como um exclusivo de quem exerce o poder», acusou Jorge Fael, criticando o executivo laranja de «cilindrar propostas alternativas» para o desenvolvimento da Covilhã.

Os comunistas acusaram mesmo o executivo de tomar «opções políticas mascarando-as de questões técnicas» para induzir mais «custos» aos munícipes. O «crescente endividamento» da autarquia é, na opinião de Fael, sintomático de «mais carga fiscal sobre as pessoas», exemplificando com o aumento da água, das rendas de habitação social ou das comparticipações exigidas às famílias no pré-escolar. Encargos que têm levado os covilhanenses para um autêntico «inferno» de sobrevivência. A promessa eterna de uma nova barragem, a entrega do saneamento em alta a privados por 30 anos, o modelo de comunidade urbana apontado pelo Governo e a ausência de políticas para os idosos, para os cidadãos portadores de deficiência ou para os mais jovens, foram outros temas que não escaparam ao “olho crítico” dos comunistas. Mais contido foi Artur Meireles, do PS, que lembrou os discursos de Pinto em anteriores comemorações da Dia da Cidade. «Talvez uma das amargas conclusões a que chegaríamos fosse a de que muitos deles se encontravam apagados por não fazerem sentido algum, pois as palavras só teriam sentido se se tivessem tornado realidade», alertou.

O líder da bancada socialista criticou ainda a falta de investimento nas freguesias rurais e a falta de entendimento com municípios vizinhos, o que poderia permitir que a Covilhã se afirmasse como «centro» da Cova da Beira». «Seja qual for o modelo [comunidades urbanas ou intermunicipais] a implementar, façam-no e depressa», apelou. A falta de investimento do Governo para o interior do país, reflectido no Orçamento de Estado para 2004 e no corte de oito milhões de euros no PIDDAC para o distrito albicastrense, são ainda motivo de preocupação do PS, aliada ao «silêncio» dos dois ministros covilhanenses no Governo (José Luís Arnaut e Pedro Roseta).

Pinto acusa oposição de «não ter credibilidade»

Contrariando esta “onda de contestação”, Bernardino Gata (PSD) louvou Carlos Pinto pelo crescimento da Covilhã desde que se encontra na presidência da autarquia há dez anos, apenas interrompidos pelo mandato de Jorge Pombo. Por sua vez, Carlos Pinto desvalorizou as críticas da oposição: «Não têm credibilidade os que falam de espaços mais alargados, união com municípios vizinhos, mas que não conseguiram fazer a regionalização. Não têm credibilidade quem geriu a Associação de Municípios da Cova da Beira (AMCB), cuja única coisa que fica para a memória é uma central de compostagem de lixo que ainda hoje procura caminhos para a rentabilização e eficiência corporativa. Não têm credibilidade quem impede famílias carenciadas do nosso concelho de terem acesso a casas sociais», apontou o edil, direccionando aqui as críticas ao PS por causa do contencioso entre o Sporting Tortosendo e Benfica e a autarquia e a Junta de Freguesia local por alegadamente terem construído habitação social em terrenos da colectividade. «Porque alguém se lembrou do impedimento por vias judiciais, 148 famílias não vão receber hoje as suas casas», denunciou, avisando que «daqui a uns anos», essas pessoas irão lembrar-se «de quem fez as casas e não de quem impediu a sua entrega por causa de protagonismos que não têm qualquer preocupação de ordem social». A falta de descentralização por parte do Governo foi também alvo de crítica de Carlos Pinto. «Estamos num país onde tem que ser um ministro a dizer quando teremos uma barragem ou quantos metros poderemos andar na Reserva Ecológica Nacional, quando deveria ser o contrário», sublinhou, lamentando estar-se a caminhar «cada vez mais para o espírito centralista» em Portugal.

Liliana Correia

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