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Exames

Sinais do Tempo

Chegaram as férias. Procuramos o melhor sol, as melhores ondas, as melhores esplanadas, melhores bares e tudo o que há de melhor quando queremos esquecer os meses de trabalho e de aborrecimentos. Ou apenas divertirmo-nos. Os corpos absorvem as radiações e atingem rapidamente aquela cor que irá em breve fazer a inveja e cobiça aos colegas. A grande maioria dos portugueses goza as férias no Verão e consequentemente à beira mar. Os políticos também vão, para nosso sossego. As primeiras páginas dos jornais transfiguram-se. Exibem fotografias dos incêndios, do Líbano, das transferências milionárias dos futebolistas ou outros factos menores. Em Agosto o país vai a banhos.

Mas antes das férias sofre-se, que o diga a ministra da educação e os alunos do 12º ano. Não foram os alunos que lhe fizeram tamanha maldade, pelo contrário, até ficaram demasiado calados, pouco se importaram, apesar do secretário da ministra ter decidido alterar as regras do jogo. O secretário de Estado fez algo impensável, despachou retroactivamente e criou desigualdade. Segundo a opinião do secretário de Estado e da ministra, a 1ª prova tinha erros e não estaria conforme o programa. Mas então com a 2ª chamada o erro não se repetiu? A prova não foi alterada e, tal como a 1ª, estava pronta em Abril. Os alunos nem se queixaram, estavam mortos de cansaço e o que queriam era ir para férias, à procura dos bares e do sol. A ministra lá teve que ir ao Parlamento explicar o que não era explicável, a oposição quase a fez chorar, mas depois, tudo ficou na mesma. As culpas recaíram sobre o anterior ministro da Educação e ficámos sem saber os nomes dos técnicos que provocaram todo o sofrimento dos alunos e dos políticos e, pior ainda, que tipo de responsabilidades lhe são imputáveis. É urgente acabar com exames cujo objectivo é avaliar o que é suposto os alunos não saberem, em vez de se avaliar exactamente o que eles deveriam saber. O Provedor de Justiça pronunciou-se pelo óbvio, em defesa dos injustiçados, mas desconfio que tudo fica na mesma.

Os exames não deviam constituir uma questão política, mas pura e simplesmente uma questão técnica. Façam-se exames de avaliação trimestral, coloque-se pressão nos alunos e professores. Escolha-se o livro único com base numa votação em todas escolas. Faça-se formação adequada e atempada aos professores em relação aos novos programas. Parece haver mais exigência com menos rigor em duas horas de prova do que houve ao longo de doze anos de escolaridade. Investiguem, analisem, ponderem e resolvam este assunto de vez, para que não se repitam asneiras todos os anos de forma fatalista, à boa maneira portuguesa.

Diversão

A Câmara Municipal da Guarda percebeu que é preciso trazer gente para a cidade. Conseguiu-o através da organização das festas populares de Verão. Trouxe cantores “pop” e “pimbas”, actores revisteiros com piadas fáceis, ocupou os jardins com expositores e outra animação. O povo divertiu-se, cantou e aplaudiu. Encontraram-se nas ruas e mexeram com a cidade. Único problema: a dispersão. A cidade continua a não ter um espaço condigno ao ar livre para feiras ou festas. É uma cidade pouco dada ao espírito de encontro e diversão pública. Apesar dos ventos e marés a Câmara apostou e ganhou. Os cofres devem ter ficado mais vazios, obviamente, mas criou uma dinâmica para os tais 80 ou 90% que nunca procurarão outras formas de expressão cultural, mas que têm direito a alguma atençãozinha nem que seja só cada seis anos.

Guerra

Israel quer aniquilar o Hezbollah. Os escudos humanos, constituídos pela população civil, lá vão morrendo. Os hospitais libaneses pouco têm feito porque tem havido poucos feridos e muitos mortos. A guerra é real, não é virtual. Vinte e quatro anos depois a história repete-se, e os protagonistas são quase os mesmos (israelitas, americanos, sírios e iranianos). Quer Israel quer o Hezbollah têm razão, dependendo das perspectivas, mas acima de tudo dependendo da nossa convicção em relação ao sentido que faz ou não qualquer guerra. Nós, europeus, tivemos a ultima guerra há 60 anos. Agora temos guerrilha urbana e terrorismo. Quem sofre são os libaneses. Quem ganha são os senhores das guerras, sem fardas, vestidos de fato e gravata, que fazem o negócio da vida deles a vender armamento, para depois poderem partir em busca da felicidade eterna, sem remorsos ou arrependimentos. Esta guerra vai muito para lá daquilo que nos é mostrado (como todas as outras) O Hezbollah é um estado dentro do estado do Líbano. Tem escolas, hospitais e outros serviços próprios. É um estado financiado pela Síria e pelo Irão. O Líbano é um casino onde os senhores da guerra e os agentes de espionagem jogam a roleta dos interesses mais díspares. Israel é um estado nascido da II Guerra, fabricado e apoiado pelos americanos, que se expandiu pela força e pelo sacrifício, é um estado democrático, mas formado por um povo beligerante.

Recentemente comprei dois filmes que aconselho, Munique e Siriana.

Receita para férias “simplex”

Carregue o carro com as malas até ao limite, bicicletas nos suportes e moto de água no reboque, mp3 nos ouvidos, ar condicionado ligado, telemóvel desligado, TV e rádio só para o futebol, revistas de palavras cruzadas ou um qualquer livro para dar estilo. Sol no máximo. Umas sardinhadas, umas caldeiradas e umas mariscadas. Aí vamos nós. São as férias “simplex”, porque estamos fartos do “complex”.

Por: João Santiago Correia

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