Mais de 7.000 pessoas assinaram o manifesto do “Movimento Direito a Morrer com Dignidade”, o que implica que o tema eutanásia seja discutido e votado no Parlamento português.
Ao analisarmos a nossa raiz ocidental verificamos que tanto gregos como romanos praticavam o infanticídio, o suicídio e a eutanásia como prática de uma “boa morte”. Após isso e com a vinda do cristianismo foi transmitida a ideia que a vida humana é eterna, não deve ser tirada, defendendo a igreja católica que o homem tem de morrer de forma natural e nunca provocada por outrem, declarando no documento “Iura et Bona” que «esta atitude humana está em oposição ao desígnio do amor de Deus para com o homem», continuando a acenar com culpas e pecados, chegando alguns fundamentalistas a comparar a eutanásia à lei nazi quando esta destruía vidas que segundo eles não mereciam ser vividas.
O ato de tirar a vida a alguém obriga-nos a refletir e muito, percebendo que existe a diferença moral entre matar e deixar morrer e a ética, neste caso incapaz de se impor, naquilo que é fazer acontecer ou deixar acontecer, percebendo a diferença e quiçá a responsabilidade pela morte daqueles que matamos e pelas mortes daqueles que não vamos conseguir salvar.
O direito à vida é indiscutivelmente um valor absoluto e inviolável, podendo mesmo assim colocar-se em causa desde que a escolha seja conscientemente tomada pelo próprio e assumidamente voluntária, numa diferença substancial entre o direito de viver com dignidade e o direito de morrer dignamente.
Morrer deixa de ser apenas uma questão clinica para se transformar numa decisão pessoal. A vida, filosoficamente, tem valor absoluto, mas infelizmente damos conta de coisas várias e algo aceitáveis como a legítima defesa, a guerra, a pena de morte, os acidentes de trabalho, de viação, etc. etc. etc.
A discussão que não tarda irá centrar-se no desafio ético, envolvendo toda a sociedade, onde estarão em debate argumentos interessantes acerca da condição humana, que o homem deve morrer de forma natural e nunca provocada, utilizando o velhinho ditado popular “enquanto há vida há esperança”, a posição política de uma rede nacional de cuidados paliativos etc. etc.
Neste Estado laico, onde a sociedade é maioritariamente seguidora da igreja de Roma, olhamos para o estudo sobre “Atitudes Sociais dos Portugueses”, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, coordenado por Manuel Villaverde Cabral e Jorge Vala, para verificarmos que mais de 60% dos portugueses têm posições favoráveis à prática da eutanásia, enquanto apenas 35% são contra.
Viver significa, entre outras coisas, ver, rir, ouvir, cheirar, Amar. Olhemos para alguém ao nosso lado, da nossa família, daquela mais próxima. Alguém ligado a uma máquina anos a fio, ou ainda outro que já não vê, não ouve, não come, nem bebe, não sente, não ri e que nos pede para lhe tirar esse enorme peso de cima. O que devemos fazer?
Termino com a tal pergunta que merece toda a nossa reflexão: Tirar a vida a uma pessoa que solicitou a eutanásia, em consciência, e está em verdadeiro estado vegetativo, é moralmente pior ou melhor que deixá-la morrer?
Por: Albino Bárbara