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EUA: Eu… quero votar!

George Bush vai ser julgado pelo povo americano nas eleições presidenciais do próximo ano. Mas porquê, só pelos americanos? As decisões de Bush têm ondas de choque mais fortes em Portugal que os intermináveis discursos de Jorge Sampaio. Porque não posso eu votar nas presidenciais dos EUA? Se o líder da Casa Branca quer ser o Mister World, então a denominada “maior democracia do mundo” tem de encontrar mecanismos para alargar o sufrágio aos cinco continentes. Aceito que esta é uma pura questão académica mas que, contudo, nos deve merecer uma séria reflexão…

Os americanos – por mérito próprio e demérito de muitos, incluindo a Europa – dominam as grandes plataformas internacionais. Controlam a ONU – e quando não controlam, pura e simplesmente, deixam de pagar a luz e a água… e desobedecem. Controlam a NATO, a escolha dos seus líderes e a correlação das suas forças. Controlam a conquista estratégica do espaço e das reservas energéticas do planeta. Controlam as novas tecnologias e os motores económicos do globo. Qual Papa na Idade Média, o presidente americano é ainda o soberano da política internacional. Declara guerras (preventivas?), demite governos, alimenta conflitos e é mediador dos mesmos. Vende armas e assina tratados de desmilitarização. Exibe sem pudor uma desmesurada influência sobre a actualidade mundial.

Assim sendo, a escolha do presidente dos EUA é algo que diz respeito a todos nós, não só aos americanos. Aliás, os problemas centrais da campanha eleitoral nos EUA não são a economia interna, ou os problemas sociais…. Não. É a preocupação com o Iraque – onde a paz resulta ser mais complicada que a guerra -, é o conflito Israel-Palestino, é a proliferação de arsenal nuclear no Irão, no Paquistão ou na Coreia do Norte. Ou seja, a política fora de portas. Homens como George Bush podem destruir equilíbrios regionais levar a guerra a qualquer ponto do planeta sem grandes motivos aparentes…. basta inventar” armas (que um batalhão de 1.400 investigadores americanos nunca encontraram no Iraque, por exemplo) ou acenar com a bandeira do combate ao terrorismo.

Não sei se, como diz o filósofo, o bater de asas de uma borboleta na China pode causar um furacão na outra ponta do globo mas tenho a certeza que uma decisão do presidente americano causa um turbilhão de consequências em todo o mundo, incluindo Portugal. Na nossa fragilidade, sofremos com o choque das guerras, com a força do Dólar, com a estratégia avassaladora dos gigantes industriais americanos, com a incerteza dos mercados, com a dependência militar…etc.

Perante tudo isto, as sondagens para as presidenciais em Portugal, parecem-me um jogo virtual da comunicação social, a que deito um olho por curiosidade. São as presidenciais nos EUA em 2004 que, hoje, me deixam verdadeiramente apreensivo. É que não é só o futuro da América que se decide, é o futuro próximo de todos nós. Então, porque não temos nós, na democracia mundial…, direito a uma palavra?

Por: João Morgado

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