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Estudar acaba em dar

observatório de ornitorrincos

O governo insiste todos os dias que os portugueses têm de estudar mais e melhor. E dá-nos exemplos. Atentemos neste: Carlos Queiroz acabou os estudos e já conseguiu quatro títulos importantes como treinador. Conquistou dois campeonatos mundiais de sub-20 com a selecção portuguesa, um campeonato português para o Benfica enquanto treinador do Sporting e uma liga espanhola para o Valência como responsável máximo pelo Real Madrid. Se isto não é um óptimo currículo, amanhã vou cortar relva.

Entretanto, somos confrontados diariamente com os acontecimentos quotidianos no interior das escolas portuguesas. São os professores a levar sopapos dos alunos, são colegiais a ter sexo uns com os outros e estudantes a fumar nos recreios. Mas não se julgue que a escola são apenas coisas boas. O ensino em Portugal também tem defeitos. Mas como o Observatório é um espaço de optimismo, falemos então dos progressos feitos na educação.

A chamada violência contra os professores, por exemplo, é considerada por muitos pedagogos como um bom sinal de vitalidade do espaço educativo. Estabelece-se uma dinâmica de reacção por parte do estudante, uma interacção projectiva entre alunos matulões e os professores, que regra geral são gente mais enfezada e medricas. A possibilidade de assentar duas solhas bem mandadas num professor entradote ou numa “stôra” mamalhuda pode ser muito mais útil para a integração social dos alunos e para a sua compreensão dos valores humanísticos da contemporaneidade do que ficarem sentados num laboratório a preparar apaticamente uma pipeta.

Uma revista descobriu a semana passada que há sexo nas escolas. Aqui está um exemplo de como se pode chegar a jornalista sem sequer ter passado pelo liceu. Só assim se explica que só agora tenha descoberto que os alunos têm relações no recinto das escolas. Se o governo quer que a juventude vá à escola tem de providenciar boas condições. Não basta ter casas de banho mistas para a rapaziada ter sexo. É preciso que as casas de banho sejam cómodas, porque já se sabe como uma sanita pode ser muito desconfortável. Já agora, lamento imenso que o Ministério da Educação não se tenha preocupado com o acesso universal à educação e me tenha deixado de fora dessas actividades extra-curriculares durante o meu tempo de estudante liceal. Bem, eu estava no jornal da escola e provavelmente a direcção pedagógica e as próprias miúdas consideravam isso incompatível.

Mas nada deve atrapalhar os adolescentes de serem adolescentes e fazerem o que lhes dá na real gana. Também eu fiz muita infantilidade, muita criancice e muitos disparates. E isso foi a semana passada. No liceu, por acaso, até era um gajo bem comportado. Aquilo que a Psicologia designa cientificamente por totó. O que prova que o governo não tem assim tanta razão com aqueles anúncios das Novas Oportunidades. Tudo bem, estudar até pode proporcionar melhores empregos. Mas não foi por acabar os meus estudos (mais ou menos, ainda não terminei o doutoramento nem de ver toda a filmografia de Anna Nicole Smith e Jenna Jameson) que comecei a receber convites de Rachel Weisz – para não dizerem que só falo de miudinhas pós-adolescentes de cabeça oca, aqui está um pranto referente a uma mulher da minha idade e com estudos feitos na Universidade de Cambridge. E isto, senhor primeiro-ministro, é que seria uma nova oportunidade.

Por: Nuno Amaral Jerónimo

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