Neve é sinónimo de enchente na Serra da Estrela. Se lhe juntarmos um fim-de-semana prolongado, então temos a combinação perfeita. Foi o que aconteceu nos últimos dois feriados, com milhares de turistas a encherem os hotéis e restaurantes da região.
Para isto muito tem contribuído a verdadeira avalanche de notícias relacionadas com a Serra da Estrela. Nas últimas duas semanas, televisões, rádios e jornais noticiaram profusamente a abertura oficial da Estância de Esqui e apresentaram os novos equipamentos que garantem 70 dias de esqui por época.
Tudo parecia correr bem, não fosse o já tradicional encerramento da estrada devido à intensa queda de neve que se tem registado desde o início do mês. Para os que procuram a serra apenas pelo prazer do contacto com a neve, o encerramento do acesso às pistas não é problemático. Já os cerca de 200 mil adeptos de esqui existentes em Portugal têm razões de queixa, pois de nada adianta ter novas pistas quando os acessos estão encerrados. Penso que o vultuoso investimento realizado pela Turistrela justifica um sistema de limpeza de estradas que possibilite uma rápida abertura das estradas.
Gardunha assiste
O inusitado movimento deste fim-de-semana – mais habitual nos meses de Janeiro, Fevereiro e Março – recordou-me imediatamente o Fundão. Como é sabido, o município fundanense saiu da Região de Turismo da Serra da Estrela por considerar que o concelho estava a ser prejudicado, apostando tudo na promoção da Serra da Gardunha. Suponho que o recente frenesim mediático em torno da Serra da Estrela deve ter deixado os autarcas do Fundão a pensar se a saída da Região de Turismo terá sido a melhor opção. Como é óbvio, não é por isso que os turistas vão deixar de pernoitar e comer no Fundão. Quem promoveu esta saída, a Câmara Municipal, bem o merecia, mas infelizmente, os prejudicados seriam os hoteleiros, que não têm culpa nenhuma.
Apesar de vários estudos recentes apontarem a Serra da Estrela como a única marca com alguma notoriedade, o irredutível município fundanense decidiu constituir uma empresa municipal de turismo. As expectativas são boas: os responsáveis dizem que em 2010 o Fundão espera ser o concelho mais visitado da região, com mais de um milhão de turistas. Estes números podem ser úteis para justificar a necessidade de uma empresa municipal mas, por favor, não queiram fazer de nós parvos. Para além da criação de uns empregos, não vejo que vantagens terá o Fundão com a troca da Região de Turismo por uma empresa municipal.
Por: João Canavilhas
