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«Estou a candidatar-me a deputado e nada mais»

Paulo Campos considera que o distrito tem potencialidades a explorar e promete trabalhar para valorizar a Guarda. O cabeça-de-lista do PS às legislativas pretende criar uma associação que reúna os quatro deputados eleitos na defesa dos interesses do distrito.

P – Qual é a sua meta em termos eleitorais?

R – A meta que tenho e que o PS tem é ficar em primeiro lugar nos resultados eleitorais a nível nacional, mas também no distrito da Guarda.

P – Têm condições para desempatar o atual número de deputados eleitos pelo distrito?

R – Há muitas eleições que o resultado no distrito é de dois deputados para o PS e dois para o principal partido da oposição. Obviamente que a ambição que temos é sempre de melhorar, mas é difícil alterar esse padrão.

P – Como vai conseguir recuperar os 10 mil votos que o PS perdeu em 2009?

R – Esta campanha tem um objetivo muito claro, que é colocar a Guarda no “coração” de Portugal. Quem tem que achar se o PS consegue ou não recuperar os 10 mil votos que perdeu são os eleitores deste distrito e não os agentes políticos ou os candidatos a deputados.

P – Parece estar a aproveitar a pré-campanha para conhecer melhor o distrito. O que é que ficou a conhecer que desconhecia?

R – Eu conheço muito bem o distrito. Não há particularmente nada de que não tenha um conhecimento com profundidade. Não posso dizer que conheço as 300 e tal freguesias do distrito, mas conheço muito bem os 14 municípios. A minha vivência sempre foi muito feita no distrito, não apenas enquanto criança, mas também enquanto adulto e responsável governativo. Talvez tenha sido o distrito que mais tenha visitado nos últimos anos enquanto governante, porque foi também aqui que mais obra fizemos. Além disso, sou também responsável por algo que é pouco conhecido na região, mas que é absolutamente importante revelar. Houve um país a duas velocidades na área das comunicações, uma parte onde se inovou e se investiu e outra em que esses serviços ficaram para trás. Agora, estamos a fazer uma nova rede de fibra ótica e, pela primeira vez, tomou-se a decisão de fazer este investimento também no interior do país. No distrito da Guarda são 10 os municípios beneficiados com essa infraestrutura e que vão ficar com as mesmas oportunidades do litoral. É por isso que o pilar mais forte da minha candidatura é a defesa do interior, a igualdade de oportunidades e darmos as mesmas condições às populações do interior que são dadas às do litoral.

P – Têm vindo a público algumas notícias sobre a relação custo/benefício da introdução de portagens nas SCUT. Até que ponto é que é importante para a redução do défice a sua introdução?

R – É um tema muito discutido. A posição do PS foi sempre muito clara, pois sempre dissemos que as portagens deviam ser introduzidas quando as condições económicas das regiões o justificassem. Foi essa a decisão do Governo e daí resultou que se devia introduzir portagens em três auto-estradas no litoral do país. Acontece que o PSD exigiu que a medida devia ser estendida a todo o país. Numa cedência a interesses eleitorais, o PSD sacrificou o desenvolvimento do interior, exigindo com a célebre frase “ou pagam todos ou não paga nenhum” que fossem colocadas portagens nas auto-estradas do interior. O resultado financeiro da colocação dessas portagens é positivo, como é óbvio, porque passámos de uma situação em que tínhamos um custo para o qual não tínhamos nenhuma receita, para outra em que ao custo final é deduzido o valor que se vai receber pelas portagens. As informações que vieram muito recentemente a público fazem parte de uma campanha de desinformação e não têm nenhum cabimento.

P – Como reage às acusações de ser o “pai” dos pórticos que estão a ser instalados?

R – Essa é uma matéria apenas também do ponto de vista eleitoral. A paternidade tem que ser assumida por quem exigiu as portagens e é uma irresponsabilidade e sobretudo enganar os eleitores vir agora falar de outras matérias, nomeadamente de descriminação, porque quando surgiu a oportunidade de descriminarmos positivamente esses protagonistas exigiram que não houvesse descriminação.

P – Mas não é possível os habitantes da região virem a ter mais isenções para circularem na A23 e A25 quando vierem a ser portajadas?

R – A proposta que fizemos sobre as isenções, e que está em vigor até uma determinada data, porque a partir daí só vigorará nas zonas que tenham rendimento inferior a um patamar, é a de 10 utilizações inteiramente gratuitas por mês em toda a extensão que percorram na A25 e na A23. Acresce a todas as utilizações um desconto de 15 por cento nas restantes viagens. Quando apurado no valor global, é um desconto que será sempre superior a 15 por cento e se o número de utilizações não exceder 10 é uma isenção total.

P – Foi secretário de Estado duas vezes. Caso José Sócrates ganhe novamente as eleições, esta sua candidatura poderá ser apenas um interregno para um novo cargo no Governo?

R – Sou um gestor e um executor por natureza. Quando participei nas campanhas de 2005 e 2009 trabalhei em prol de uma causa e de um projeto em que continuo a acreditar e também porque reconheço enormes qualidades no candidato a primeiro-ministro apresentado pelo PS. Em nenhum momento entrei numas eleições para me candidatar a qualquer lugar. Neste momento estou a candidatar-me a deputado para representar os eleitores durante os próximos quatro anos na Assembleia da República e nada mais.

P – O que lhe disse José Sócrates quando o convidou para ser cabeça-de-lista pelo PS na Guarda?

R – Eu e José Sócrates temos uma relação não apenas de grande amizade, mas também de respeito mútuo e, como primeiro-ministro, já me encarregou de várias missões. Esta não é diferente de todas as outras e recebi-a com grande agrado, orgulho, mas também com uma enorme responsabilidade. Espero cumprir as expetativas do secretário-geral do PS, mas sobretudo cumprir as expetativas dos eleitores na defesa dos principais valores para a Guarda. Há aqui muitas matérias que temos de trabalhar. A Guarda tem um conjunto de valores que, do ponto de vista estratégico, permitem que o desenvolvimento possa acontecer e é isso que temos de valorizar e de procurar.

P – O que acha da diminuição do número de deputados?

R – Não sou contra a redução do número de deputados, mas sou contra que essa redução seja feita à custa de círculos eleitorais onde a representatividade já é reduzida e a Guarda é um deles. A proposta feita pelo PSD não terá o nosso acordo se isso representar uma redução dos deputados da Guarda. Este distrito merece quatro ou mais parlamentares. Enquanto o principal partido da oposição apresenta propostas que vão diminuir a representatividade do distrito, eu não deixarei de apresentar propostas que valorizam o distrito. Não faz muito sentido continuar a eleger deputados pelos círculos da emigração e fará muito sentido que os emigrantes, que têm amor à sua terra, possam votar pelos círculos de onde são originários e, desse modo, a Guarda aumentaria certamente a sua representatividade.

P – Quais os principais projetos que tem para o distrito enquanto candidato a deputado?

R – Uma iniciativa que achamos de primordial importância e fraturante comparativamente ao PSD é a harmonização dos tarifários da água. Será a primeira medida que iremos propor na Assembleia da República. Isso equivalerá a uma descida das tarifas cobradas aos municípios no abastecimento da água e no tratamento de águas residuais de cerca de 30 por cento, o que é muito significativo. Uma segunda medida é que, numa futura reforma eleitoral, os votos dos emigrantes contem para a região de onde são oriundos. Uma terceira proposta que não deixarei de apresentar é que no futuro, em qualquer medida que seja do interesse da Guarda, eu não deixarei de estar a favor, independentemente de quem a apresentar. Aliás, apresentarei uma proposta a todos os outros candidatos, nomeadamente aos que forem eleitos, para que seja criada uma associação que defenda e promova os interesses da Guarda. Penso que é muito importante que todos aqueles que vão defender a Guarda estejam unidos e que essa associação possa reunir, de dois em dois meses, com todos os deputados eleitos, mas também com os eleitos locais e com os representantes da sociedade civil para que se faça um guião das medidas e estratégias que são absolutamente fundamentais para a Guarda. O meu futuro, seja como deputado ou em qualquer outra função, será trabalhar para valorizar a Guarda e sobretudo para influenciar nos centros de decisão que as boas decisões sejam tomadas em favor da Guarda, independentemente de quem esteja no Governo e de quem tenha a ideia.

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