Arquivo

Este país não é para jovens

Editorial

1. Depois de anos a ouvirmos dizer que «este país não é para velhos», hoje perguntamo-nos se este país é para jovens. Esta mutação não advém da constatação de que os mais velhos passaram a ter uma vida flauteada, sem dificuldades ou amarguras. Pelo contrário, em abstrato, o empobrecimento generalizado do país atinge de forma gravosa os mais fracos, independentemente da faixa etária, e em concreto, e de forma aflitiva, os mais idosos com rendimentos mais baixos. Porém, são as novas gerações que estão perante o maior drama, o de estarem perante uma realidade difusa e sombria, o de se confrontarem com uma incapacidade elementar: ter futuro em Portugal.

Estranhamente, e em contraste com a “narrativa” que todos os dias nos entra em casa, pela voz dos mais poderosos e com lugar cativo nos media lisboetas, há em Portugal uma minoria de reformados com ganhos muito acima da média que, ao longo de anos, se acotovelaram para conseguir os melhores lugares, e agora auferem rendimentos milionários – não de milhões, mas de milhares de euros. Dizem que são resultado da «carreira contributiva», mas na generalidade não é verdade: até 2006 escolhiam-se os cinco melhores anos dos últimos 15 anos no ativo, ou seja, reformaram-se com os valores mais elevados da sua carreira contributiva, ainda que tenham descontado sobre salários baixos em grande parte do tempo de trabalho. Claro que isto diz respeito apenas aos que, na função pública ou no privado, foram sendo promovidos e foram melhorando a sua situação profissional com mérito e esforço, mas, ainda assim, conquistando um direito pecuniário muito acima daquilo para que contribuíram – se fossem feitas as contas, com os 11% que pagaram durante a carreira contributiva, daria para receberem reformas por poucos anos, e mesmo que se somem os 23,75% pagos pela entidade empregadora, também não daria para muitos mais anos.

Do outro lado estão a maioria dos pensionistas portugueses, os que no ativo sempre estiveram do lado de baixo na folha de vencimentos e que quando se aposentaram não tiveram muito por onde escolher, sendo uma maioria silenciosa, com poucos direitos e parcas reformas. Isto enquanto os jovens, os que vão conseguindo emprego, auferem 500 euros de salário, num qualquer trabalho precário e sem expetativas (o que, mesmo num país em que o salário médio de quem trabalha é de pouco mais de 800 euros, é indescritível).

2. Recordando Manuel António Pina, que no JN escreveu, precisamente, com este mesmo título (“Este país não é para jovens”, Jornal de Notícias, 15-12-2011): «Como sobreviver porém, física e moralmente, à guerra que se abate hoje sobre os jovens, condenados sem fim à vista à precariedade, à humilhação e à desesperança, impedidos de constituir família ou de ter vida própria? E uma boa parte da responsabilidade política por isso é justamente da minha geração.». Hoje, entre austeridade, empobrecimento e emigração ficam cada vez menos para pagar a fatura dos erros cometidos.

3. A população residente em Portugal voltou a diminuir resultado do valor negativo do crescimento natural e do crescimento migratório. Face à população residente, a proporção de jovens passou de 14,9% em 2011 para 14,8% em 2012. Ou seja, o índice de envelhecimento passou de 128 idosos por 100 jovens, em 2011, para 131 idosos por 100 jovens, em 2012. Um país cada vez mais velho, sem políticas de natalidade, sem apoio aos jovens casais que querem ter filhos, com custos de educação cada vez mais altos e rendimentos cada vez mais baixos. Quem vai pagar as reformas e suportar os custos de um país envelhecido e mais pobre?

Luis Baptista-Martins

Sobre o autor

Leave a Reply