Ainda é considerado um desporto de homens, mas no distrito da Guarda são as mulheres que dão cartas e títulos no futebol. Se dúvidas houvesse elas dissiparam-se com o feito da Fundação D. Laura dos Santos, de Moimenta da Serra (Gouveia), cuja equipa sénior – onde jogam, entre outras, as selecionadas Filipa Fernandes e Sílvia Rebelo – vai jogar na Iª Divisão Nacional na próxima época. É a primeira vez que um clube da Associação de Futebol da Guarda (AFG) chega ao escalão máximo do futebol nacional, o que motivou uma homenagem no passado sábado.
Era «uma obrigação» distinguir a Fundação, reconheceu Andrade Poço, que não regateou elogios às atletas e ao clube – gerido por uma IPSS –, considerando que têm sido «a honra principal do futebol distrital». De resto, o presidente da AFG lembrou que graças ao seu desempenho a associação ocupará «o quarto ou quinto lugar do ranking nacional», enquanto no futebol masculino estará muito mais abaixo. O dirigente recordou também Ana Borges, ex-jogadora da Fundação que regressou recentemente a Espanha depois de uma passagem pelos Estados Unidos, mas também os técnicos Susana Cova e Carlos Sacadura enquanto «grandes impulsionadores» do futebol feminino no distrito. «O resultado está à vista. Temos jogadoras nas diferentes seleções nacionais, uma equipa na Iª Divisão e muitas promessas, mas é preciso criar novas gerações para continuar a ter equipas competitivas», disse Andrade Poço, para quem chegou a hora dos clubes apostarem nos escalões de formação.
Quanto à próxima época, o presidente da AFG acredita que será possível chegar à final da Taça de Portugal – «frente ao 1º de Dezembro» – e lutar pelos lugares cimeiros do campeonato. «A equipa tem jogadoras com qualidade para isso», afiançou. Mais comedido nos objetivos foi o presidente da direção da Fundação D. Laura dos Santos: «Vamos certamente manter-nos na Iª Divisão, mas o campeonato será muito difícil», declarou Rui Reis, que, no entanto, augura um «futuro risonho» à equipa no escalão máximo do futebol feminino. O responsável considerou a homenagem da AFG «merecida», sobretudo pelas atletas e respetivas famílias, e lembrou que a Fundação já vai a caminho da décima época no futebol feminino, «uma aposta ganha e premiada agora com a subida à Iª Divisão». Rui Reis fez ainda questão de partilhar este sucesso com a atual equipa diretiva da AFG e com a imprensa local por «dar visibilidade» às jogadoras.
Também Luís Tadeu, presidente da Assembleia-Geral da Associação de Futebol e vice-presidente da Câmara de Gouveia, elogiou a aposta da instituição e as jogadores, afirmando que a subida à Iª Divisão resulta do «vosso querer e do facto da Fundação vos ter permitido ir mais longe. Este ano, o vosso sonho tornou-se também o nosso». Na sua opinião, com esta subida «ganham o concelho de Gouveia e o distrito da Guarda».
Filipa Fernandes fica, mas quer jogar no estrangeiro
Filipa Fernandes, a nova estrela da Fundação D. Laura dos Santos, confirma que vai continuar na equipa na próxima época. «Tinha dado a minha palavra e vou ficar este ano, mas o meu objetivo é jogar no estrangeiro», disse a O INTERIOR, adiantando que já recusou convites de equipas portuguesas. A jogadora, que disputou recentemente o Europeu de Sub-19 com a seleção nacional, lamenta que não haja em Portugal condições para o futebol feminino profissional, que ainda é desvalorizado. «Enquanto o Benfica, Porto e Sporting não entrarem na modalidade não teremos os apoios que deveríamos e merecíamos ter, ao contrário do que acontece no estrangeiro», disse. Quanto à próxima época, Filipa Fernandes, de 18 anos e 25 internacionalizações, acredita que a Fundação vai manter-se na Iª Divisão.
Luis Martins 
