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«Este cargo é uma grande responsabilidade e um desafio pessoal»

Cara a Cara – Paulo Sequeira

P – Como surgiu a hipótese de assumir as funções de comandante dos Bombeiros da Guarda?

R – Surgiu após a demissão do anterior comandante Luís Santos, em janeiro último, e que desencadeou um processo de indigitação por parte da direção, que durante algum tempo fez as suas pesquisas e as suas reuniões, ponderou, avaliou e acabou por me convidar para assumir o comando do corpo de bombeiros. É uma sequência de trabalho. Somos quatro elementos de comando, poderia ser um de nós ou alguém da sociedade civil, mas a direção entendeu por bem que tal cargo deveria ser assumido por alguém do corpo de bombeiros, de carreira, portanto. Nasce daí o convite, que me foi feito pelo presidente Luís Borges, e que resolvi aceitar. A tomada de posse ainda não está agendada, pois há agora que resolver todo um processo burocrático de homologação por parte da Autoridade Nacional de Proteção Civil.

P – Como encara este desafio?

R – Face às condições do nosso país, hoje em dia todos os desafios são grandes. E neste caso estamos a falar de funções em instituições voluntárias e que dependem de subsídios e da sociedade para os seus elementos, o que torna a tarefa ainda mais difícil. O corpo de bombeiros da Guarda é, na sua quase totalidade, voluntário. Apenas tem funcionários para garantir as horas do dia em que os voluntários estão empenhados nas suas atividades profissionais. Vale-nos que por cá não há crise no voluntariado, pois temos tido sempre bombeiros e gente a entrar com vontade de ajudar. Se bem que algumas dessas pessoas encarem depois a realidade e se apercebam que não era isso que vinham eventualmente à procura. Por outro lado, há também o facto de ser na altura em que é, próximo da época dos fogos florestais, que em boa verdade nem deixou de existir desde o último verão. Mas a aproximação da época oficial exige uma organização específica e que é feita anualmente, e também por aí é um desafio. Também o facto de estarmos numa sede de distrito, numa cidade importante do interior, comporta um conjunto significativo de riscos, fazendo deste cargo uma grande responsabilidade. De qualquer forma, para mim é sempre um desafio pessoal encarar uma grande responsabilidade.

P – Quais são as maiores dificuldades e limitações que neste momento se colocam?

R – As dificuldades e limitações são sempre um pouco subjetivas, dependendo daquilo que vai ser o quotidiano do corpo de bombeiros. Pretende-se, por isso, que a corporação venha a viver dia-a-dia, com previsões, com programação e com uma organização ponderada e a pensar no futuro. Mas vamos tentar ser o mais humildes possível na nossa forma de vivência. As dificuldades financeiras são sempre significativas e a inexistência de profissionais em horário laboral pode constituir também uma grande dificuldade, dependendo da continuação ou não desses elementos, o que obrigaria ao empenho de muito mais gente e com tempos de intervenção mais demorados. Outra preocupação prende-se com algumas limitações a nível de equipamentos, que já foram ventiladas. Mas espero que consigamos ultrapassar todas essas limitações e ser eficazes no nosso trabalho.

P – A falta de apoios institucionais e da população pode pôr em risco o voluntariado?

R – As associações humanitárias de bombeiros surgem no nosso país para dar resposta a uma responsabilidade da nossa estrutura governamental, ou seja, a proteção de pessoas e bens na área de combate a incêndios, urgência médica, entre outras. E estas associações precisam obrigatoriamente de apoios para assegurar a sua sobrevivência, nesse sentido a delicada situação económica em que o país se encontra vai ser um sério entrave. Não no cumprimento da nossa missão, pois isso fá-lo-emos sempre com toda a certeza, independentemente das dificuldades, pois é essa a nossa missão principal. Mas esperamos que os apoios institucionais sejam repensados para serem prestados da melhor maneira, até porque neste momento eles são poucos e não tão significativos quanto deveriam ser. Quanto ao apoio da população, tenho a certeza que a sociedade entende a necessidade de existirem bombeiros e que os bombeiros gozam de uma imagem positiva junto da opinião pública. Além disso, como referi, temos registado uma boa afluência de voluntários e por isso penso que desse quadrante não nos faltará apoio.

P – Quais as prioridades e projetos para o futuro?

R – O ponto principal em termos operacionais passa por manter o corpo de bombeiros a funcionar como o tem feito até aqui, ou seja, capaz de dar resposta às situações de socorro que lhe são solicitadas, tanto a nível de recursos humanos como materiais. Com a entrada de um novo comandante poderá haver algumas alterações na forma de trabalhar e também algumas novidades ao nível do reequipamento, de alguns projetos relacionados com as nossas necessidades. Tudo isso será avaliado em tempo oportuno, sempre de acordo com as nossas possibilidades financeiras e em sintonia com a direção, pois os corpos de bombeiros não são feitos por uma pessoa, mas por um conjunto de pessoas das quais o comandante é apenas o representante. Por isso, o trabalho, a organização, as ideias, as prioridades e os projetos devem ser definidos em conjunto por todos os membros do corpo de bombeiros.

Paulo Sequeira

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