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«Este ano resolvemos apostar na abertura do evento ao público espanhol»

António Oliveira, presidente da direção da AENEBEIRA, falou ao Jornal das Empresas sobre a Feira do Fumeiro, dos Sabores e do Artesanato do Nordeste da Beira

P – Quais as expectativas para mais uma edição da Feira do Fumeiro, dos Sabores e do Artesanato do Nordeste da Beira?

R – As expectativas com que partimos para esta feira são, naturalmente, positivas. Este evento tem vindo a registar um crescimento gradual desde a sua primeira edição, atraindo cada vez mais gente e as expectativas vão no sentido de que a edição deste ano não deslustre face ao sucesso das anteriores. Claro que o contexto em que a mesma se realiza, de crise económica, nos obriga a que sejamos mais comedidos em relação àquilo que se pode esperar do evento, mas ainda assim estamos otimistas.

P – Em termos de visitantes, tem algum número estimado que gostaria de atingir?

R – Nós pensamos que esta Feira do Fumeiro e dos Sabores, ao longo dos dois fins-de-semana em que se realiza, poderá ser visitada por cerca de 60 mil pessoas, com especial incidência nos domingos. Este número é apenas uma estimativa, uma vez que a entrada é livre e não há, por isso, uma forma de saber com certeza o número de visitantes. Mas esperamos que, também devido a esse fator da entrada livre, a feira conte com uma boa afluência, entre os 50 e 60 mil visitantes, número que está em consonância com as edições anteriores.

P – São esperados visitantes não só da região, mas também de outras zonas do país?

R – Esta feira vive essencialmente disso. Além de ser visitada pelas pessoas do distrito da Guarda e dos concelhos mais próximos, o facto de ter tido, ao longo dos últimos anos, um forte investimento da nossa parte na comunicação social a nível nacional, tanto através de spots radiofónicos, quer através das televisões, faz com que esperemos atrair pessoas de outras zonas do país. Como parte dessa promoção, posso adiantar que no próximo sábado vamos promover a Feira do Fumeiro no programa “Portugal Sem Fronteiras”, emitido pela RTP. Sabemos, através de inquéritos realizados em edições anteriores, que temos pessoas dos mais diversos pontos do país a visitarem a feira. Além disso, se um dos objetivos fundamentais do certame passa por promover os produtos endógenos e os saberes tradicionais da nossa região, não só a nível gastronómico como também artesanal, é claro que não os vamos promover junto daqueles que já os conhecem. Por isso, nós divulgamos a feira essencialmente para trazer pessoas de outras regiões e dar-lhes a conhecer o que melhor há na nossa região. De referir que esta feira beneficia do facto de ser contemporânea da quinzena da Amendoeira em Flor e quem normalmente faz esse circuito passa também por Trancoso e pela Feira do Fumeiro. Nesse sentido, vários operadores turísticos já nos contactaram para saberem os horários de funcionamento do certame e por isso estamos também a contar com esse público para promovermos os produtos e proporcionarmos vendas aos expositores presentes (empresas e pequenos produtores da região entre o Douro e a Serra da Estrela).

P – E de Espanha, são esperados visitantes?

R – Nunca nos apercebemos, ao longo das edições anteriores, de um número significante de visitantes provenientes de Espanha. E, por isso, este ano resolvemos fazer essa aposta e “abrir” o evento ao mercado espanhol, através da realização de uma conferência de imprensa de promoção da feira, que decorreu na Oficina de Turismo “Portugal Interior”, na Plaza Mayor de Salamanca, que contou com um conjunto significativo de meios de comunicação locais. Colocámos também alguma publicidade na comunicação social escrita de Salamanca, a sair esta semana. Há portanto uma intenção de tentar, pela primeira vez, cativar e atrair o visitante espanhol.

P – A crise poderá afetar o sucesso da iniciativa?

R – A crise é hoje algo com que todos lidamos, não só em Portugal, como também em Espanha e no restante Sul da Europa, e que naturalmente se repercute no comércio e no turismo e deslocação das pessoas. É um fator a ter em conta, mas que esperamos que não se reflita de forma clara nesta feira. Esperamos que, por conta do esforço que fizemos na divulgação do evento, consigamos atenuar os efeitos nefastos da crise e evitar com que estes se reflitam de forma notória no sucesso da iniciativa.

P – Teme que o pagamento de portagens na A25 e A23 possa afastar algum público?

R – O público da região beneficia de descriminação positiva, pelo que me parece que não será muito prejudicado. Esse é um problema que se coloca mais ao potencial turista espanhol, por não ser nada ágil nem nada prático, pelos fatores que conhecemos, adquirir o título para circular na A25. Mas tivemos oportunidade de explicitar, no contacto que promovemos com a comunicação social espanhola, que há uma alternativa que permite a deslocação entre Vilar Formoso e Trancoso evitando as portagens, e circulando por estradas nacionais de boa qualidade, e que foram recentemente objeto de intervenção. A estrada nacional que liga Almeida a Pinhel, e Pinhel a Vila Franca das Naves, tomando depois o IP2 em direção a Trancoso, permite fazer comodamente os 70 quilómetros que vão desde a fronteira até ao local do evento. A respeito das portagens, penso que o país sairá prejudicado, pois não ajuda nada a promover a mobilidade das pessoas, e repercutir-se-á no visitante ocasional espanhol, que está perto da fronteira e vem até Portugal de vez em quando fazer uma visita turística, e que muito provavelmente deixará de vir não só devido aos custos, mas também à morosidade do processo de aquisição dos dispositivos. E isto é mau para territórios de fronteira, que beneficiavam da animação trazida por essas visitas.

Quanto ao visitante nacional que não beneficia de discriminações nas SCUT, acredito que não deixe de vir, até porque quem nos visita de outros pontos do país aproveita uma deslocação à Serra da Estrela ou às Amendoeiras em Flor para o fazer. Para além de que muitas desses visitantes integram excursões e vêm de autocarro, e aí o impacto das portagens é mínimo. Mas temos de viver com a realidade, e como já referi, vamos apostar na promoção do evento para, de algum modo, contrariar as vicissitudes destes tempos mais difíceis e com perspetivas mais sombrias.

P – A aposta na qualidade dos produtos pode ser uma boa estratégia para continuar a captar compradores?

R – Seguramente que sim, e nós temos aqui um conjunto de produtores bem característicos da nossa região, muitos deles são produtores artesanais, como salsicharias e queijarias, e que apresentam um produto de belíssima qualidade. Começam também a aparecer muitos produtores particulares de vinhos, azeite e doçaria regional, que também estarão presentes. A qualidade sempre foi uma preocupação inerente a esta feira, e seguramente essa qualidade bem visível em anteriores edições é uma aposta e uma imagem desta nossa realização, e seguramente que tem contribuído para o sucesso e para o facto de, ano após ano, termos mais visitantes, como tem vindo a ocorrer.

P- Quais as novidades desta edição?

R – Neste tipo de eventos, a organização limita-se a selecionar os produtores, e nesse sentido, o que os produtores colocam é da sua responsabilidade. Mas não há uma grande margem para novidades, porque a feira centra-se na área dos produtos regionais, produtos que remetem para saberes tradicionais, e nesse sentido digamos que a tradição e a inovação não se complementam muito bem. Portanto, o que se apresentará nesta feira será aquilo que os produtores conseguem fazer de melhor dentro daquilo que é a traição da nossa região.

P – A aposta na realização da feira durante dois fins-de-semana mantém-se. Foi uma opção acertada?

R – Nós fizemos essa escolha há três anos e o resultado foi positivo para a maioria dos expositores, que defenderam a continuação desse modelo. Nesse sentido, decidimos pela sua continuação. Trata-se de uma decisão que assenta no “feedback” que recebemos por parte desses expositores e perante as opiniões positivas, a organização tem estado sensível a esse sentimento maioritário. Agrada aos expositores, acredito que também agrade ao público, devido ao fluxo que há com a quinzena das Amendoeiras em Flor, e por isso penso que é uma opção acertada.

P – As condições atmosféricas são importantes para o sucesso do certame?

R – As condições atmosféricas têm sempre influência neste tipo de eventos. Recordo-me de um ano em que estava tudo gelado, as pessoas circulavam com dificuldade e só nos visitaram os turistas que vieram à Serra da Estrela. Claro que a existência de boas condições atmosféricas é preferível e facilita a vida ao evento, até porque atrai mais pessoas. E as previsões, pelo menos para o primeiro fim-de-semana, são de bom tempo. Portanto tudo leva a crer que a meteorologia não constitua um handicap para a edição deste ano da Feira do Fumeiro e dos Sabores.

P – Qual a importância desta Feira no contexto regional?

R – A AENEBEIRA considera que esta feira é extremamente importante, exatamente porque contribui para divulgar, promover, e proporcionar também momentos de transações, de venda de produtos, num sector que é muito importante para um conjunto significativo de concelhos, onde as atividades agro-alimentares são estratégicas. E acredito que essa importância venha a crescer no contexto da nossa região, pois tudo o que tenha a ver com o seu futuro passará necessariamente, não só pelo turismo, como pelo aproveitamento dos recursos endógenos.

P – Quantas queijarias e salsicharias existem atualmente no concelho de Trancoso?

R – Em Trancoso, a importância da indústria agro-alimentar é decisiva, ao ponto das agro-indústrias serem, no seu conjunto, os maiores empregadores do concelho. Estamos a falar de duas fábricas de lacticínios, e em relação às salsicharias há duas de cariz industrial, e mais seis de características artesanais. Queijarias artesanais, são 15. Merece destaque a produção de enchidos e fumados no concelho de Trancoso, que é bastante significativa. Nós calculamos que se produzam cerca de 1.400 toneladas destes produtos, o que corresponde a cerca de 85 por cento da produção de enchidos e fumados em toda a NUT Beira Interior Norte.

P – Esta feira realiza-se desde 2004. É um evento cada vez mais consolidado a nível regional e nacional?

R – Esta feira já ultrapassou a fase de consolidação, é um dado adquirido e é neste momento um certame claramente consolidado a nível regional. A nível nacional, nós queremos continuar a promovê-la e colocá-la no calendário de eventos semelhantes que se fazem no resto do país, no sentido de alcançarmos uma cada vez maior notoriedade.

P – Qual é o investimento global da feira?

R – O investimento global da feira ronda os 45 mil euros. Cerca de 10 por cento deste valor é suportado pelos expositores. O restante provem de uma comparticipação do QREN, de fundos comunitários, na ordem dos 20 mil euros, e também do orçamento da própria associação.

P – Para além dos produtos para vender, também vai haver a tradicional animação?

R – Sim, este ano, como tivemos uma maior procura e, consequentemente, um aumento do número de expositores na feira, tivemos de fazer uma alteração à animação do recinto. Ao contrário do que é habitual, não vai haver palco no interior do pavilhão, uma vez que o espaço teve que ser ocupado com stands, mercê do aumento de expositores que referi, e que avaliamos em cerca de 10 por cento relativamente à edição do ano passado. Esse palco teve de ser “sacrificado” e vai passar para o exterior, ficando à entrada do recinto da feira. Se o tempo o permitir, e tudo indica que sim, haverá ali animação ao longo das tardes de sábado e domingo. Independentemente das condições meteorológicas, haverá sempre animação musical a circular pela feira. Essa animação interior será proporcionada por grupos de gaitas de foles, caixas e concertinas. No exterior, atuarão ranchos folclóricos e bandas filarmónicas.

P- Quais os produtos em concreto que vão estar representados na feira deste ano?

R – Temos produtores de enchidos, tanto artesanais como industriais, e produtores de queijo, também industrial e artesanal, oriundos principalmente dos concelhos de Trancoso e Celorico da Beira. Vamos ter também 12 produtores de vinhos, produtores de pão regional, doçaria regional, e também produtores de mel, licores, azeite, desde que devidamente licenciados, que é uma situação que procuramos sempre salvaguardar. E, para além de tudo isto, vamos ter também artesanato da região. Em suma, vamos ter um total de 105 stands para 90 expositores, sendo 16 produtores de fumeiro, 24 produtores de queijo, 11 produtores de vinhos, 19 produtores de pão, doces e outros produtos regionais, e 20 artesãos.

P – Vai realizar-se mais uma vez o fim-de-semana gastronómico. Quais as ambições para esta quinta edição da iniciativa?

R – Naturalmente pretendemos promover a gastronomia da nossa região e, nesse sentido, convidar todos aqueles que nos visitam nesta altura a visitarem também os restaurantes que vão estar presentes, e que aderiram a esta quinta edição do Festival Gastronómico. Aí poderão degustar a gastronomia de Trancoso e da região. Aderiram oito restaurantes aqui da cidade de Trancoso, que vão apresentar uma proposta de ementa baseada em produtos regionais, como os enchidos e o cabrito ou o borrego, aliados à melhor doçaria típica. No geral, pensamos estarem reunidos os condimentos para o sucesso, agora esperamos que as pessoas venham visitar a feira.

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