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Estaremos à espera do nosso Heysel?

Entrementes

Corria o dia 29 de Maio de 1985 e realizava-se a final da então Taça dos Campeões Europeus entre italianos (Juventus) e ingleses (Liverpool). Era um fim de tarde. Uma tarde igual a tantas outras, não fosse o que viria a seguir… Quase quatro dezenas de mortos provocados pelos tristemente célebres hooligans.

Quase vinte e cinco anos depois a que propósito vem este arrazoado? Não, não se trata de recordar aqueles que morreram esmagados contra as grades do estádio ou espezinhados pela fúria, incontrolável, demente, de uma multidão em fuga. A resposta é bem outra e bem mais próxima. Aliás, é uma resposta dada em duas partes, tal como acontece nos jogos de Futebol:

Parte I

Aquando do jogo entre o Sporting Clube de Portugal e o Atlético de Madrid ouvi eu, com estes dois que a terra há-de comer, um autoproclamado líder de uma claque apregoar aos quatro ventos que espanhol que bulisse era para atingir. Fosse homem, mulher ou criança, acrescentava, ufano no seu papel de agitador de patriotismos bacocos. Mais ainda: não se coibiu de chamar Aljubarrota à colação. Neste ponto já D. João I e D. Nuno Álvares Pereira davam dois saltos na tumba e a padeira pegava na pá, pronta a varejar o troglodita… Mas não: a nossa querida comunicação social, alguma comunicação social, arranjou logo o alguidar e vai de dar tempo de antena que é disto que o meu povo gosta!… E, assim a modos de epílogo da coisa, o marialva ainda acrescentava que já tinham, ele o seu grupo bem comportado, alguns troféus, leia-se castelhanos de cabeças rachadas…

Parte II

Dias mais tarde, mais a sul, no Algarve, disputava-se a final da Taça da Liga. As equipas eram desta vez o Futebol Clube do Porto e o Sport Lisboa e Benfica. Ambas as equipas convenientemente apoiadas pelos seus exércitos, desculpem, claques, em autêntica invasão das terras meridionais. Equipados com armaduras, digo, adereços, a rigor, estes exércitos (rais parta que me não sai uma hoje…) fervorosos adeptos, paravam para abastecer estômagos sedentos. E como qualquer bom guerreiro (lá estou eu outra vez…), adepto, isso, adepto, que se preze, aproveitavam o tempo para umas provocaçõezitas ao bando inimigo. Inimigo não, rival. Que raio, já estamos no século XXI, na era do (como hei-de dizer?…) vilipendiado, ultrajado, ignominiado, Papa Bento XVI… Nada de mais… Umas pedritas aos vidros da cavalaria antagonista, mais umas num torneio de pontaria a ver quem acertava naqueles loucos que teimavam em sair de casa e andar pela auto-estrada como se o país não estivesse em guerra… E depois ainda tinham a distinta lata de se queixarem, os finórios… Pois que ficassem em casa, ou não sabiam por lá que, naquele dia, o caminho era deles?…

Há vinte e cinco anos atrás os clubes ingleses foram proibidos de participar em provas europeias durante cinco épocas e a rainha Isabel II, ela mesma, veio a terreiro aplaudir essa decisão ao mesmo tempo que condenava o comportamento dos seus súbditos naquela tarde fatídica.

Por cá, o silêncio é de ouro. Continuamos a assobiar para o lado e, pai que se preze e tenha amor à prole, não a levará por certo a qualquer campo de batalha em que se transformaram os nossos estádios…

Desculpem: alguém por aí falou em bullying ou foi apenas impressão minha?…

Por: Norberto Gonçalves

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