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Estão todos a trabalhar para Sócrates?

O PS já percebeu quem é a sua oposição verdadeira: o PCP. Percebeu e percebeu bem, porque da direita (infelizmente para o equilíbrio do sistema político) não vem grande coisa.

O PSD vive, como se sabe, completamente desorientado; o CDS, com Paulo Portas de dedo em riste, não convence, soa a falso. Há qualquer coisa de lúgubre, de fúnebre nesta direita que nem se consegue explicar. Em contrapartida o PCP está em grande. Manifestações gigantescas e luta social acesa (com razão ou sem ela) são o paraíso dos comunistas. Até nas sondagens, que não são o mais interessante para o PCP, a vida lhes corre bem.

De modo que o PS, enquanto no Parlamento se defende das estocadas de Portas e das saídas grandiloquentes de Santana, vai atacando o PCP quando e onde pode, acusando inclusive a direita de andar a reboque dos comunistas.

No meio deste filme, e como se tudo estivesse bem coreografado, aparecem uns cartazes mais radicais a comparar Sócrates com Hitler, como aconteceu na Casa do Alentejo, durante uma reunião de militares descontentes. Claro que estas palavras, bem como outros actos (manifestações em frente de comícios do PS), membros do Governo apodados de fascistas, etc., são prontamente condenados por toda a gente, incluindo o PCP, e não se sabe quem as organiza.

Porém, se a pergunta for quem é beneficiado com tais actuações, não é difícil constatar que é o próprio primeiro-ministro, que perante acusações tão estrambólicas faz o seu papel de vítima com classe.

Enquanto a direita tenta sarar feridas e se entretém a acusar-se mutuamente, surge um novo partido (MEP) que se quer situar entre o PS e o PSD. Claro que isto pode ser paranóia a mais, mas o projecto, até pela sigla, cheira imenso a ser uma espécie de MDP do PS (recorde-se que em 1974/75 o MDP servia para canalizar votos não comunistas para a órbita do PCP). Na verdade, o MEP, de Rui Marques, parece talhado a colocar (a questão está em saber se voluntária ou involuntariamente) na zona do PS os votos dos descontentes da direita.

Ou seja, tudo se conjuga, à esquerda e à direita, para que Sócrates continue mais quatro anos com maioria absoluta. E este tudo se conjuga é literal.

Parece que todos estão a trabalhar para Sócrates. O CDS, o PSD, o novo partido, a esquerda. Até alguns cronistas são tão enviesados na oposição que parecem fascinados pelo líder.

Só a crise pode deter esta caminhada do PS. Mas a crise é o pior que nos pode acontecer.

Por: Henrique Monteiro

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