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«Esta região só pode beneficiar com o turismo patrimonial»

Cara a Cara – Entrevista

P – Qual a principal conclusão que se pode retirar da sua tese de mestrado, que deu origem ao livro “A romanização na bacia do rio Côa”, agora publicado?

R – Primeiro, importa dizer que este estudo é o ponto de partida para um trabalho que terá que ser mais desenvolvido com o envolvimento das Câmaras e das associações culturais. A principal conclusão que se pode retirar é que, de facto, os romanos tiveram uma apetência especial por todo este território e que souberam, como ninguém, explorar os recursos que havia por cá. Há sobretudo uma grande concentração de povoamento romano em zonas onde a exploração agrícola e pecuária tinham uma grande valia que ainda hoje permanece.

P – Porquê essa apetência especial por esta zona?

R – Em primeiro lugar, porque havia alguma riqueza mineira em toda esta zona que levou ao desenvolvimento de algumas pequenas cidades e de alguns núcleos urbanos secundários e, depois, para produções a que eles davam grande importância, como a do vinho e do azeite, que na época romana terão também tido algum relevo nesta zona.

P – Quais os locais que os romanos preferiram na Beira Interior?

R – O povoamento está sobretudo concentrado junto a núcleos urbanos, ou seja, naquelas zonas que nós tínhamos conhecimento e que hoje em dia são conhecidas como sendo cidades romanas, ou pelo menos, zonas com uma certa centralidade na época romana. Há uma densidade de povoamento que é considerável, ou seja, à volta desses núcleos urbanos havia casas, habitações, algumas delas de grandes dimensões com pavimento de mosaicos, inclusivamente, e que se distribuem com grande regularidade à volta desses núcleos urbanos. Um deles é Marialva, outra cidade também identificada é a Torre de Almofala de que falo no livro e outro núcleo cuja capital está por identificar, mas que ficaria na zona da Guarda ou do Sabugal, daí que se destaque também como de grande importância o sítio arqueológico da Póvoa do Mileu.

P – Portanto, o seu trabalho de investigação incide sobre vários concelhos do distrito da Guarda?

R – Sim, sobretudo sobre a bacia média do rio Côa que vai, mais ou menos, da confluência da ribeira de Vila Soeiro com o Côa até à zona do rio Noéme, na Guarda. Incide sobre toda esta zona de Almeida, Pinhel, Trancoso, Mêda, Guarda e Figueira de Castelo Rodrigo.

P – Quais os achados mais importantes que foram encontrados?

R – Há dois sítios de grande importância. Além da Póvoa do Mileu, há um outro que é o Castelo dos Prados – na freguesia das Freixedas, junto à aldeia dos Prados -, um povoado de grandes dimensões da época romana que ainda não foi investigado. Houve apenas achados de superfície, mas que, de facto, mostram uma certa centralidade em todo o território e que merece uma exploração arqueológica. Outro local de grande importância está localizado entre Santa Eufémia e o Sabugal, que é o sítio das Minas da Senhora das Fontes, onde pela primeira vez nesta região se encontraram mosaicos romanos, ou restos deles, o que revela também uma estação de grande importância para aquela época e que tem, sem dúvida nenhuma, muito interesse em ser explorada.

P – Em sua opinião, este trabalho pode ser um contributo importante para a criação de uma possível rede de locais arqueológicos na Beira Interior para captar turistas?

R – Acho que sim. O trabalho de inventariação e de estudo da importância de cada um dos sítios está feito, agora cabe às Câmaras Municipais, às Juntas de Freguesia e às próprias associações de desenvolvimento local darem seguimento ao trabalho, nomeadamente com intervenções arqueológicas nos sítios que destaquei, que são de grande importância, mas também criando circuitos de visita para pessoas interessadas no património. Mas, claro que sempre com trabalhos prévios de limpeza de sítios, de inventariação de outros elementos que, eventualmente, possam até passar despercebidos mas que têm grande importância. É uma coisa que se tem valorizado muito pouco em toda esta região Norte, à excepção de Vila Nova de Foz Côa e de Freixo de Numão. Mas todos os concelhos têm grandes potencialidades a esse nível. Esta região só pode beneficiar com o turismo patrimonial, com a vertente científica e do património.

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