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«Espero que bom senso e o bem comum prevaleçam na Guarda»

Bispo da Guarda comentou processo do novo hospital, do impasse da Gartextil e da crise económica

D. António dos Santos, Bispo da Guarda, apelou na semana passada à união dos guardenses por projectos que beneficiem o bem comum. Durante uma visita pastoral à paróquia de Fernão Joanes, no concelho da Guarda, o prelado mostrou estar atento à actualidade e manifestou a sua preocupação sobre temas como o novo hospital, o impasse da Gartextil, a crise económica ou o caso de pedofilia. Numa rara tomada de posição pública, D. António dos Santos revelou ter assumido algum protagonismo, enquanto «força moral e do Evangelho», para conseguir a resolução de alguns problemas. «Mas como não sou político nem tenho forças governamentais, faço o que está ao alcance das minhas mãos, embora disso não faça constar publicamente. Por vezes, consegue-se alguma coisa, outras não», sublinhou.

As inesperadas declarações do Bispo da Guarda aconteceram à margem de uma visita às instituições de apoio social daquela freguesia do concelho da Guarda, onde partilhou o jantar de duas dezenas de idosos. Instado a comentar questões da actualidade, D. António surpreendeu os jornalistas presentes ao aceitar responder às perguntas, disponibilidade pouco vista no seu recatado consulado de mais de 30 anos. A última aconteceu há dois anos numa visita idêntica à paróquia de Vale de Estrela, onde o prelado abordou a falta de médicos na região e defendeu que as instituições da área da saúde deveriam olhar de forma diferente para os utentes. Duas situações que têm em comum o padre Francisco Barbeira, chefe de redacção do jornal “A Guarda”, que não tem poupado esforços para retirar D. António da “sombra” do Paço Episcopal. Assim aconteceu em Fernão Joanes na passada quinta-feira. A propósito da construção do novo hospital e de outros projectos fundamentais para a cidade, o Bispo lembrou que a união das pessoas é fundamental: «O meu apelo é para que as pessoas se unam, pondo à frente dos seus gostos e interesses o bem comum, porque esse vai reverter no final a favor de todos», considerou, dizendo saber que «há pessoas de todos os partidos que gostavam de dar as mãos para que as coisas avançassem bem», numa alusão a algumas reuniões havidas com determinadas personalidades da Guarda. De resto, acredita que as obras vão aparecer quando o bom senso e o bem comum «prevalecerem na Guarda».

Outra situação que preocupa D. António é o impasse da Gartextil: «Tenho feito esforços, tantos quanto me é possível porque não sou político nem tenho forças governamentais, para ver se as coisas se resolvem. Mas, como força moral e do Evangelho, faço o que está ao alcance das minhas mãos, embora disso não faça constar publicamente», sublinha, confessando que, quando uma fábrica fecha, «isso é para mim um escuro que se abre e pelo qual farei tudo, no aspecto moral e espiritual, para que se transforme em luz». De resto, o Bispo não ficou indiferente ao anúncio de que os trabalhadores da Gartextil deverão consoar frente ao Governo Civil e reclamou do «Estado e dos patrões a possibilidade de dar outro caminho a estas pessoas, que deviam ter a alegria de viver a noite de Natal noutras condições». Por falar em crise, D. António dos Santos espera que os sacrifícios exigidos aos portugueses pelo actual Governo sejam repartidos: «Acho que não deve haver egoísmos de uns tantos que não têm em conta o seu semelhante, nem oportunismos de outros tantos que querem valer-se da situação e só eles receberem os bens. É preciso ter em conta que os bens do mundo foram criados por Deus para toda a gente», avisa. Mais melindroso, o caso da pedofilia levou o prelado a apontar o dedo a alguma comunicação social, defendendo que as crianças devem merecer-nos todo o respeito. «Não vou condenar ninguém, mas temos que fazer um grande esforço para olhar por cada criança com respeito pleno até porque não têm defesas. Penso que não se devia falar de tanta coisa que prejudica as crianças que vão assistindo aos telejornais», explicou.

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