Arquivo

«Esperava ser colocado, mas acabei no desemprego»

Professores do distrito sem colocação deslocaram-se ao Centro de Emprego da Guarda na manhã de segunda-feira para requerer subsídio

É uma situação comum a muitos professores a seguir ao concurso nacional: a esperança de ver o seu nome entre a lista de colocados, mas acabar confrontado com o desemprego. Luís Ramos, de 28 anos, é um dos docentes nesta situação, e fez parte das várias dezenas de professores que, na passada segunda-feira, recorreram ao Centro de Emprego da Guarda para requerer o subsídio de desemprego.

Ensina Educação Física há seis anos, tendo passado pelas escolas de Gouveia e Celorico da Beira, esta nos últimos três anos. «Tive a sorte de ser reconduzido, mas este ano isso não se verificou», refere o docente, confessando já temer este cenário, «devido às medidas adotadas pelo Governo, entre as quais a redução do número de horas no desporto escolar». No entanto, Luís Ramos admite que «tinha uma ligeira esperança de ainda ser colocado, pois concorri a nível nacional, mas acabei mesmo por vir parar ao desemprego, pela primeira vez na minha carreira». Este professor espera agora «não estar muito tempo nesta situação, até porque não estou habituado», mas teme estar perante «um ano muito difícil». Luís Marques, de 34 anos e também docente de Educação Física, é outro dos professores da Guarda sem colocação. «Quando foram lançadas as vagas e comecei a ver os professores vinculados a terem de concorrer, como contratado percebi logo que a minha vida não seria nada fácil», diz este professor que dá aulas há 12 anos. «Já passei por 11 escolas, do litoral ao interior e de norte a sul», revela, adiantando que «no ano passado recorri ao desemprego apenas durante 20 dias, mas este ano parece-me que terei de recorrer por mais tempo». Luís Marques refere que os docentes «podem sempre recorrer a outros ramos profissionais, mas o problema é geral, ninguém quer fazer contratos a ninguém e o trabalho precário está na moda». «Como fora da docência é praticamente impossível conseguir trabalho estável, continuamos a lutar pelo nosso trabalho na escola», conclui este professor.

Em alguns casos, até a burocracia parece funcionar contra os docentes. Marta Antunes, professora de Fisico-Química de 37 anos, apresentou-se no Centro de Emprego da Guarda para requerer o subsídio de desemprego, mas terá de voltar uma segunda vez, «porque não posso fazer a reserva ou tirar senha enquanto não tiver o comprovativo de cessação de contrato», que a antiga escola se comprometeu a enviar. Só que «ainda não há comprovativo algum, e não deixam sequer fazer a pré-inscrição», diz esta docente. Marta Antunes é professora há 14 anos, ao longo dos quais passou «por 12 escolas». «De há seis anos para cá que tive colocação a 31 de agosto com horário completo, o que não aconteceu este ano», diz a professora, confessando que «não esperava ficar de fora». O futuro é agora uma incógnita para Marta Antunes. «Quero pensar que ainda vou conseguir ser colocada, mas dada a situação, sinceramente não sei», conclui.

Sindicatos apoiaram professores junto aos Centros de Emprego

A Federação Nacional dos Professores marcou presença junto aos Centros de Emprego um pouco por todo o país na passada segunda-feira, para contestar a situação de desemprego em que se encontram milhares de docentes. Na Guarda a dirigente distrital do Sindicato dos Professores da Região Centro (SPRC), Sofia Monteiro, distribuiu documentos contendo informações úteis aos docentes que se apresentaram para requerer o subsídio de desemprego. Sofia Monteiro referiu que esta ação se destinou a «apoiar os docentes desempregados e mostrar-lhes que não estão sozinhos». «Estamos cá para ajudar naquilo que for necessário, e também para chamar a atenção da sociedade civil, pois estamos perante um problema nacional», sustentou a dirigente.

Mais de 43 mil professores sem colocação no país

De acordo com o Ministério da Educação, dos 51.209 candidatos sem vínculo à Função Pública que se apresentaram ao concurso para contratação inicial ou renovação do contrato, apenas ficaram colocados 7.600 professores, o que significa que 43.609 não conseguiram trabalho. O número de contratados mostra uma redução de 5.147 professores face a 2011/2012, em que entraram, nesta fase, 12.747 docentes sem vínculo nas escolas.

Permanecem sem colocação 1.872 professores dos quadros sem componente letiva, que, segundo o ministério, irão substituir docentes reformados, com baixa médica prolongada ou com licença de parentalidade, podendo igualmente desenvolver trabalho em atividades extracurriculares, apoio ao estudo ou coadjuvação em disciplinas estruturantes.

Fábio Gomes Responsáveis do Sindicato distribuíram documentos aos professores presentes

«Esperava ser colocado, mas acabei no
        desemprego»

Sobre o autor

Leave a Reply