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Espaços Sagrados do III milénio a.C.

Nos Cantos do Património

A actividade arqueológica surge como forma de interpretação de sítios arqueológicos, na tentativa de compreensão da forma como viviam as comunidades humanas que nos antecederam no espaço e no tempo.

Contudo, esta análise dificulta-se quanto mais recuarmos no tempo. Cabe aos arqueólogos descrever, de forma rigorosa e científica, os sítios que estudam para uma correcta análise dos dados.

Na região da Guarda um monumento que remonta à Pré-História Recente, construído como espaço de inumação e ligado ao simbólico-religioso, é a Anta de Pêra do Moço, exemplar único, ou pelo menos conhecido. É possível que existissem outros monumentos nas suas proximidades.

Na área da Beira restaram alguns exemplares, a maioria inseridos nesta tipologia, os monumentos megalíticos da Beira Alta.

Não deixa de ser curiosa a definição de diversas tipologias, sendo o megalitismo caracterizado por monumentos compostos por diversos esteios (entre 5 e 9), talhados em monólitos, com planta poligonal, cujo acesso é efectuado através de um pequeno corredor, também ele definido com monólitos.

Uma das questões mais pertinente diz respeito à sua funcionalidade. Um dos espaços principais destes monumentos corresponde à câmara, o espaço interior, delimitado pelos esteios (colocados ao alto) e pela laje de cobertura, construída também num único monólito. A sua finalidade seria o espaço de inumação dos indivíduos destas comunidades do Neolítico Final.

Todavia, escavações arqueológicas em monumentos desta natureza têm demonstrado a presença de poucos enterramentos, certamente não representando a totalidade de indivíduos destas comunidades. Tal é questionado tendo em conta as escavações arqueológicas nos povoados associados a estes monumentos, permitindo definir comunidades com certa dimensão. Assim, parece-nos licito concluirmos que nem todos os indivíduos seriam inumados no interior dos dólmens, mas em fossas ou abrigos naturais.

Por outro lado, a diferenciação entre indivíduos inumados nos dólmens e os outros poderá fornecer indícios para a definição de uma certa diferenciação na comunidade, testemunho de uma estratificação social. Contudo, verificamos que, uma vez mais, as escavações nos povoados não têm permitido a definição dessa estratificação.

Sem dúvida, a construção de monumentos desta natureza, por comunidades com escassos recursos tecnológicos e semi-nómadas, implicando um elevado esforço de construção, é um símbolo da evolução humana, um marco na paisagem. Cabe a todos nós que estes espaços simbólicos, rituais e mágicos sejam respeitados e preservados.

Por: Vítor Pereira

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