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Escolher alvos com cuidado

Estou a escrever esta crónica na Cidade do Cabo, África do Sul. Ontem, passei a manhã na baixa da cidade, onde trabalhei há duas décadas, em frente à famosa Serra da Mesa.

Hoje, a baixa de “Cape Town” é um centro africano, uma incrível mistura de raças e línguas, e uma multidão de negócios formais e informais: de bananas a telemóveis, de elefantes de madeira a malas chineses, além dos barbeiros nos passeios. Também há um imenso centro de conferências, hotéis, livrarias, restaurantes, bares da moda e muita nova construção, incluindo as gruas que cercam o estádio 2010. Muito importante: este centro está bem limpo e é muito seguro – invulgar em África.

Não era assim há nove anos, quando parecia que a baixa ira repetir o declínio do centro de Joanesburgo. Mas, em 1999, foi lançado o “Cape Town Partnership” (parceria), mobilizando o município, a Câmara de Comércio e outras entidades na criação do primeiro CID, um “City Improvement District”. Não é nada de novo. Muitas cidades criam esse tipo de agências… A Guarda já teve o Polis e agora a Agência para a Promoção da Guarda (APGUR). Mas podemos ver diferenças importantes. Primeiro, houve receitas PRÓPRIAS. Numa decisão inédita, a Câmara da Cidade do Cabo mudou as leis municipais de modo a que fosse possível este CID receber dinheiro directamente dos senhorios e investidores na baixa, como um segundo IMI, mas para gastar como ELES escolhessem.

A segunda diferença estava na estratégia exacta. Não havia grandes esperanças de responder aos assaltos, às lojas vazias, aos grafitti, aos sem-abrigo, ao lixo, urina e arrumadores. Mas, em 2000, a acção começou com dois “alvos-chave”: muito policiamento adicional e imensos esforços de limpeza. E a surpresa aconteceu passados uns meses, pois pudemos sentir a diferença na rua. Dois anos depois destas acções, os investidores estavam a voltar em força, numa maré de construção nova.

Em 2008 confirma-se que o CID escolheu os alvos correctamente: insegurança e lixo. Com estes controlados, o resto foi mais fácil. Na nossa Guarda, quais são os “alvos mágicos” que faltam para o centro histórico? Promoção? Neste último ano já se viu bastante actividade, como as excelentes feiras de antiguidades, os “Sabores com Tradição” de São João, os 2 CV, o Galo do Entrudo. Recuperação? Depois do Polis, temos as obras de pavimentação a decorrer há muito.

Para mim, os “alvos mágicos” são três. Primeiro, precisamos de uma solução inovadora para o estacionamento de curto e longo prazo muito perto da zona muralhada. Com apenas 200 lugares, podiamos transformar muito. Segundo, temos que facilitar o processo moroso de ali (re-)construir, enquanto divulgamos as oportunidades para residência, lojas ou escritórios nesta zona nobre e tão bem localizada.

Criamos um pacote informativo para arquitectos e investidores, bem como um sistema “fast track” para o parecer da Câmara e do IPPAR. Para projectos de recuperação na zona histórica haveria uma única pessoa para acompanhar o processo (prioritário, tratamento especial – tipo Empresa na Hora). A terceira sugestão seria continuarmos a promover a zona muralhada da cidade, divulgando a sua oferta, eventos e as oportunidades que pode proporcionar, mas com maior ênfase numa mini-zona de oito ou dez quarteirões perto do Vivaci, e gerir cada metro quadrado como se fosse um “shopping”.

Esta mini-zona deve ter poderes delegados que complementam – não substituem – as responsabilidades da Câmara, precisa de um responsável (a tempo inteiro), que deve ser pago, e ter um programa de acção decidido pelos comerciantes e senhorios envolvidos. Afinal, para manter a massa crítica, os clientes actuais e ganhar novos, o factor decisivo vai ser a acção conjunta pelo comércio tradicional.

Por: Rory Birkby

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