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Equívocos

Aos primeiros sinais de queda de neve na Serra da Estrela a chusma de equívocos atropela-se nos blogs e órgãos de comunicação social (…), apesar de ficarmos sem saber porque razão a estrada que rasga o planalto superior, conhecida por estrada da Torre, fica sistematicamente encerrada.

Se para o público em geral a questão pode causar alguma perplexidade (…), o mesmo já não se justifica no caso do representante da Turistrela, que tem a obrigação de conhecer profundamente o problema. Infelizmente, as suas últimas declarações, a propósito do encerramento da dita estrada, revelam que não aprendeu nada nestes anos e que a reivindicação pela privatização do sistema de limpeza da neve e a aplicação de penalizações, por cada dia que a estrada estivesse fechada, visará outros interesses que nada terão a ver com a solução do problema!

(…) Vejamos o que sucede no exterior para compreendermos o nosso problema. As estâncias de La Mongie e Bàreges ficam situadas nos altos Pirenéus franceses, (…), respectivamente a 1.700 e 1.252 metros de altitude. Ou seja, comparando duas realidades, entre o meio do Vale do Zêzere e um pouco mais que a Nave de S. António. Do lado espanhol temos Vale De Aran (1.500 metros), Cadanchú (1.500) e Pas de La Casa, no Principado de Andorra, (2.080). São estâncias com estradas a maior altitude e que, à sua volta, têm elevações com muito mais altitude, o que faz com que se tornem zonas mais abrigadas e, por isso, susceptíveis de condições atmosféricas menos agressivas. Ou seja, em nenhuma circunstância existem estradas e pistas de esqui a passar por qualquer ponto descampado onde só as estrelas estejam acima dele!

(…) Posto isto, parece-me justo concluir que a questão da limpeza da estrada até à altitude de 1.600 metros nunca foi colocada em causa. Os problemas surgem sempre a partir de uma outra altitude e de outros factores.

O responsável pela Turistrela referiu igualmente que o encerramento da estrada da Torre tem trazido enormes prejuízos à economia local. Tal afirmação é uma falsidade (…). Se se fizer uma pesquisa pelas aldeias e vilas serranas rapidamente se concluirá que o negócio floresce sempre que a estrada está fechada. Obviamente que a empresa que domina a gestão do espaço da Torre não ganha o que esperava (…).

Penso que os leitores já perceberam as razões porque temos a estrada diversas vezes encerrada. É que, de facto, o seu traçado contraria o bom senso, dado ser uma via sujeita a temperaturas baixíssimas e ventos com velocidades elevadíssimas, com uma percentagem de humidade muito elevada, devido à sua proximidade ao Atlântico e à ausência de qualquer barreira física que a proteja desta realidade, tornando-a muito mais exposta e extremamente vulnerável a alterações atmosféricas muito rápidas.

O actual estado só terá solução quando os três municípios (…) que limitam o cume fizerem uma avaliação objectiva e exaustiva de toda a problemática (…). Então, talvez se perceba que sustentar um organismo que funde mais de 100.000m3 da neve (…) em escassos 15 quilómetros de estrada, (…), dos custos com a presença da GNR (…) que superam os Pirenéus, com todas as consequências de ordem ambiental que ninguém está a contabilizar, pode ser uma causa perdida!

José Maria Saraiva, presidente da Associação Cultural Amigos da Serra da Estrela

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