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Equador, de Miguel Sousa Tavares

Ler para Querer

Que bom! Mais um livro onde podemos viajar no tempo e no espaço até onde a imaginação nos levar.

Pura ficção? Ficção sem dúvida, afinal trata-se de um romance. Mas não tão pura ao ponto de nos esquecermos da realidade histórica que lhe está subjacente.

De facto, mais do que a história que inicia e fecha o romance e nos “agarra” logo na primeira página, é a História que serve de cenário e de fio condutor a toda esta viagem. É ela que, nas entrelinhas, mas incontestavelmente presente, prevalece neste romance magnificamente conseguido por Miguel Sousa Tavares.

Luís Bernardo Valença, o protagonista desta história, é um homem jovem, solteiro e boémio da sociedade lisboeta do início do século XX. Vive os seus dias entre as tertúlias de amigos, os encontros furtivos com mulheres e o negócio, herança de família, que lhe permite ter uma vida desafogada. Nada o preocupa verdadeiramente. Mas também nada o prende realmente à vida. E nesse desaveio desprendido vai vivendo até ao dia em que tudo se altera.

A História determina que num ponto longínquo do mundo, na linha do equador, exista S. Tomé e Príncipe, uma colónia portuguesa onde imperam os abusos pela vida humana, e se pratica “camufladamente” (ou talvez não) a escravatura, e que é preciso, a todo o custo, salvar das investidas inglesas. Cabe a Luís Bernardo essa tarefa.

S Tomé e Príncipe será, então, o cenário escolhido para que História e história se entrelacem num enredo tão ficcional e apaixonante, quão realista e perturbador, fruto de uma intensa e cuidadosa pesquisa do autor e traduzido num extenso volume de mais de 500 páginas.

Aí se entrecruzam os sentimentos. Reais ou imaginados, quer se trate de descrever a dura realidade da escravatura existente nas colónias portuguesas; ou de falar de sentimentos intensos, e por vezes contraditórios, do nosso protagonista não só em relação ao fascínio que nutre por aquele lugar tão novo quanto retrógrado, como pela sua avassaladora paixão por Ann.

Tudo termina e se extingue por fim. A paixão, o degredo, a monarquia portuguesa.

Trata-se de um final surpreendente que nos deixa suspensos às páginas do livro até ao último momento, ávidos de continuar a ler para além dele.

Num livro tão intenso como este, nem é preciso ver para crer, basta, tão somente, ler para querer.

Por: Elisabete Constante de Brito, Professor da E.S.T.G.

Sobre o autor

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