A Lageosa da Raia abriu, na passada quinta-feira, a época das capeias arraianas, no concelho do Sabugal. Centenas de aficionados vibraram com as investidas de seis imponentes touros que deram muito trabalho aos homens do forcão.
A tradição começa logo de manhã com o encerro dos touros pelas ruas até uma praça improvisada com bancadas feitas de troncos de madeira, andaimes, taipais e tractores. Nesse espaço, os animais são “desafiados” um a um, por 30 homens da aldeia, que seguram o forcão – uma estrutura de madeira de carvalho – e aguardam pelas investidas. Considerada património etnográfico do município, esta tradição – que tem ganho cada vez mais popularidade ao longo dos últimos anos – há muito que faz parte das gentes da raia. Natural de Alfaiates, e a residir em Forcalhos – outra das aldeias com forte tradição nas capeias – Américo Leal garante que «nestes primeiros dias de Agosto, tanto os da região, como os de fora, participam na festa. Aqui toda a gente é aficionada pelos touros e as pessoas gostam muito desta tradição». Para Maria Leal, dos Fóios, esta tradição é mesmo «superior a Barrancos e a todas as outras touradas», porque «é diferente, basta dizer que é uma capeia e que não há noutro sítio qualquer uma coisa como esta». Esta arraiana de gema garante que «os arraianos são diferentes. Esta é a primeira tourada e participamos desde a primeira até à ultima».
Sendo uma localidade que faz fronteira com o país vizinho, a Lageosa da Raia atrai também muitos espanhóis que acompanham todos os anos a capeia. Vindo da localidade de Navasfrias, Juan Holgado assegura: «Sou espanhol, mas esta é a melhor festa que há em todo Portugal. Mesmo em comparação com Espanha, é a melhor festa de toda a raia», afirma. Há 50 anos que frequenta as capeias arraianas e sublinha que «é uma festa antiga de que gosto muito, bem como todos os espanhóis». A comprová-lo está Francisco Perez. Natural de Salamanca, criado perto da fronteira com Portugal (Navasfrias) e actualmente a viver em Lloret del Mar (Catalunha), este aficionado confessa a «paixão pelos touros e pelas gentes da raia». Profundo conhecedor das capeias, lembra que a tradição «mudou muito, porque antigamente era mais complicado lidar os touros». Agora que está reformado diz fazer tudo o que pode «para vir ver a festa todos os anos na Lageosa, Aldeia Velha, Aldeia do Bispo, Navasfrias, enfim, venho a todas as festas da região», refere.
Este ano, o roteiro envolve 14 capeias, realizadas em 13 freguesias do Sabugal. As próximas são na Aldeia da Ponte (no sábado), Alfaiates e Forcalhos (ambas na segunda) e Fóios (terça). A festa culmina com o autodenominado “campeonato do mundo do forcão”, marcado este ano para a praça de Aldeia da Ponte. No dia 22, várias aldeias medem forças no tradicional festival “Ó Forcão Rapazes”. Finalmente, os aficionados despedem-se das capeias em Aldeia Velha a 25 de Agosto.
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Rafael Mangana 
