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Enxurrada de lama semeou o pânico em bairro de Seia

Presidente da Câmara considera que o sucedido é «um alerta» para os problemas que se seguem aos incêndios nesta zona da Serra da Estrela

Em pouco mais de uma hora, a habitualmente inofensiva ribeira de Valverde, em Seia, transformou-se numa tumultuosa corrente de lama e pedras que semeou o pânico no Bairro da Raposeira e na urbanização dos Martinhos.

Desta primeira enxurrada alimentada com detritos dos grandes incêndios do Verão nas encostas sobranceiras à cidade serrana não houve feridos a registar, nem danos materiais de monta, mas ficou o alerta para o que pode vir a acontecer com as primeiras chuvadas do Outono. Tudo se passou ao final da tarde de 31 de Agosto, quando a chuva, acompanhada de trovoada, caiu com grande intensidade em Seia e engrossou o caudal do pacato curso de água, enquanto os resíduos florestais e as cinzas dos fogos desceram pela serra e entupiram rapidamente o sistema de drenagem daquela zona habitacional. «Nunca assisti a uma coisa assim. Foi assustador ver como a ribeira ganhou aquela força toda em poucos minutos e veio por aí abaixo, levando tudo na frente», contou a O INTERIOR Manuel Brito, morador do Bairro da Raposeira, cuja garagem ficou atulhada com «cerca de 40 centímetros de lama».

Na hora do balanço, o presidente do município garantiu que não houve feridos e que os danos materiais registados devem-se a inundações e à lama que invadiu casas e garagens. Houve ainda «alguns problemas» junto a linhas de água na área do Museu do Pão e da freguesia de Valezim, bem como a queda de uma linha de alta tensão em Vodra, já na zona baixa do concelho. «A lama também chegou ao recinto da escola secundária e à estrutura do pavilhão gimnodesportivo, situação de que só tivemos conhecimento posteriormente por não haver ninguém no local aquando da enxurrada», explicou Carlos Filipe Camelo. Segundo o edil, houve «uma boa resposta» dos serviços camarários, dos bombeiros, de empresas privadas e dos moradores. «À meia-noite tínhamos a zona totalmente limpa», refere, considerando que o sucedido é «um alerta» para os problemas que se seguem aos incêndios nesta zona serrana.

«Em 2003 aconteceu a mesma situação devido ao desaparecimento de árvores e arbustos que ajudam a reter a água nos solos. Como arderam, perdeu-se essa capacidade e a água veio encosta abaixo arrastando consigo os detritos florestais», adiantou, revelando que a população foi alertada para este perigo eminente nos próximos tempos. «Tendo em conta o passado, já tínhamos esta preocupação, mas nunca contávamos que houvesse enxurradas tão rapidamente», afirmou Carlos Filipe Camelo. Perante o que se passou na tarde dessa terça-feira, o presidente senense sugere que as intervenções de emergência nas áreas ardidas anunciadas pelo ministro da Agricultura – que tinha visitado a região na véspera – fossem rapidamente implementadas. «É preciso criar condições mínimas para reduzir o risco de derrocadas nas encostas íngremes do nosso concelho», afirma.

Luis Martins Casas e garagens afectados no Bairro da Raposeira e na urbanização dos Martinhos

Enxurrada de lama semeou o pânico em bairro
        de Seia

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