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Entre o medo e a liberdade

Editorial

1. O terror vivido em França na passada semana trouxe de novo a liberdade de expressão para as parangonas dos jornais e, mais importante, para o debate público. É cíclico. Quando parece que já ninguém se lembra que a liberdade de pensar, de exprimir, de escrever, de dizer… foi uma conquista difícil e longa, aparecem os algozes, os tiranos, os que não convivem nem aceitam o contraditório ou que o outro possa sequer pensar diferente, quanto mais exprimir essa diferença. Enquanto nas democracias ocidentais a liberdade de expressão é hoje um dado adquirido, vista como um direito natural, banal mesmo, em outras latitudes e junto de outras sociedades e costumes, escrever (ou desenhar), opinar ou pensar de forma diferente é intolerável.

A barbárie ocorrida na redação do “Charlie Hebdo” foi um ataque à liberdade de imprensa, mas foi também um ataque contra a liberdade, a fraternidade, a tolerância, a sociedade permissiva, condescendente e moderna em que todos gostamos de viver. Os homicídios de Paris foram um golpe inadmissível nos valores em que acreditamos e em queremos viver, valores que orgulhosamente herdámos, precisamente, da Revolução Francesa. Por isso, e diferentemente de outros ataques terroristas, desta vez a sociedade saiu à rua para gritar basta, contra os violentos que escolheram o caminho do ódio e não aceitam a diferença. O terror que se viveu na redação do jornal podia ter significado a morte não apenas do “Charlie Hebdo” mas mesmo da liberdade de expressão (pelo medo), mas a tragédia acabou por ser um grito contra os tiranos e dar alento e razão a todos os que corajosamente não se dobram perante os déspotas. Como diria Voltaire, «posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até à morte o seu direito de dizê-lo».

Há duas semanas, escrevi, precisamente aqui, que no jornal O INTERIOR o ano acabava como começou, com uma notificação judicial… por noticiarmos e informamos os leitores.

2. Há muito que nos indignámos pela introdução de portagens nas antigas Scuts. E há muito que nos manifestámos contra o sistema adotado nas nossas autoestradas para cobrança de portagens através da instalação de pórticos – que nos obriguem a pagar portagens em autoestradas que deviam servir para desencravar o interior subdesenvolvido é errado; que tenhamos de pagar autoestradas que já tinham sido pagas pela Europa é paradoxal; que paguemos as portagens mais caras do país é ultrajante; mas que tenhamos de pagar portagens de forma virtual, em que é necessário contratar o serviço de Via Verde (custo extra) ou ir pagar as portagens nos dias seguintes em postos de pagamento, e que em caso de distração pode acabar em processo de execução fiscal nas Finanças, é um inconcebível absurdo. Houvesse deputados a defenderem as populações do interior do país e todos os dias na Assembleia da República haveria contestação a esta situação disparatada. E, no mínimo, o sistema de pórticos já teria sido substituído – se nos querem cobrar portagens, pois que instalem portageiros; aceitamos o conceito de utilizador-pagador, pois queremos pagar, não de forma virtual, mas ali, onde se utiliza o serviço: na portagem, na estrada. Acontece que os deputados do interior fazem parte da corte, obedecem ao aparelho partidário e não abrem a boca para defender o país (sim, porque defender as terras longe de Lisboa é defender o país). Pior, o deputado que o PS elegeu no distrito da Guarda, Paulo Campos, foi, precisamente, o governante responsável pela instalação do sistema de pórticos. Os socialistas da Guarda nunca o deviam ter apoiado, quanto mais eleito. Como agora veio dizer o presidente da EP/REFER a introdução dos pórticos «foi um erro». Esperemos que António Ramalho não fique pelas palavras e implemente um sistema que seja mais próximo das pessoas, entre a Via Verde e as máquinas de pagamento, nas portagens. É o mínimo.

Luis Baptista-Martins

Comentários dos nossos leitores
Carlos Veloso cjocas@gmail.com
Comentário:
No mínimo devem acabar com A23 a pagar! Caso não saibam, não tem circulação rodoviária significativa! O erro é votarmos em incompetentes que aparecem ligados aos partidos que os defendem.
 

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