Arquivo

Entrando em cenários que não desvendei

Bilhete Postal

O cenário da mente é um fascínio, que se agiganta a quem mais o tenta perceber e penetrar. A mente tem milhares de gavetas, como um contador chinês onde vamos colocando ideias, conjeturas que fazemos das memórias, e confabulações que construímos das vivências, e filmes complexos de sensações sobre as experiências que passámos com outrem. São gavetas fábrica, que criam não só memória mas impressões sobre elas. Pensamos guardar recordações de factos estritos da infância e na verdade não há memórias claras de coisa alguma da infância longínqua. Há muitas ideias que se constroem com as revelações que outros nos dão. Quando eras pequena costumavas fazer isto. Quando eras bebé tinhas estas bonecas. E vemos fotos que passam a ser memória, e ouvimos histórias que se colam às fotos e constroem vida. Um processo construtivo que vai branqueando o pior de tudo. Apagamos uma parte substancial da dor. Fechamos janelas de trauma e envernizamos sensações agudas. Tudo isto protege e aconchega o quotidiano. Se fossemos um poço de coisas negativas a vida era só taciturna, triste e invejosa. Estes programas químicos que disparam funções protetoras vão burilando em nós um meio de proteger e de evoluir. A função maior que nos traz ao mundo é construir, apesar das contrariedades e isso só é possível mantendo as memórias atenuadas e a vontade acesa. Claro que não é fácil, mas as convicções merecem, a fronteira dos princípios em que acreditamos também. O cérebro está longe de ser conhecido mas está cada dia mais próximo de ser visitado através das funções que produz e dos químicos que coloca em circulação. Como se chamará este que branqueia as memórias más?

Por: Diogo Cabrita

Sobre o autor

Leave a Reply