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Engenheiro Crespo de Carvalho

Dos seus antepassados baste-me lembrar três: José Crespo, que, juntamente com outros próceres católicos, lutou, firmemente, contra os desvarios republicanos e foi, inclusive, director de “A Guarda”; Luís Crespo de Carvalho, majestoso patriota e porfiado africanista, que calcorreou Angola em trabalhos de suprema importância (afirmou valentemente a um Governador-Geral de então que a presença portuguesa naquelas paragens era – e só podia ser – uma espiritualidade), autor de uma obra sobre O Universo de “Os Lusíadas”, com ilustração de capa de Evelina Coelho, Nota de Abertura de Maria Antonieta Garcia da UBI e por esta mesma universidade editada; e o pai, meu professor de Educação Física no Liceu, o qual, no escândalo que sacudiu a sociedade egitaniense, quando da pretensão de uma estátua para José Luís Ferreira de Almeida, galhardamente, tomou o partido da Verdade ao afirmar que, a ser assim, também Pinto, filho do Senhor Enfermeiro Pinto, igualmente a mereceria.

Tesos, estes Crespo de Carvalho!!

Imediatamente após ter-me sido apresentado houve uma conversa entre nós. Automaticamente se me avantajou o sentimento de que um homem assim, na Guarda, era um achado. Tornámo-nos então profundamente amigos, mas sabe qualquer um que me conhece que, para mim, a Verdade sobreleva tudo quanto for, que o que escrevo decorre estritamente da minha interior verticalidade.

Os seus horizontes são os de alguém que, além de fino e cosmopolita, é também um empreendedor de estalo. Junta o singular refinamento da arte com o carácter prático do mecânico (é Engenheiro Mecânico e não quis seguir o magistério universitário no IST, a mais prestigiada Escola de Engenharia do nosso País).

A primeira exposição de artistas egitanienses que fez na sua empresa, a Egicar, foi uma revelação; e a categoria do seu carácter empreendedor avalia-se bem por dois motivos:

pela Egicar, que está na vanguarda da Ecologia e já foi, por isso, galardoada (por outro lado, quando, na Europa, entro em instalações VW, de Bordéus a Oslo, de Cambrai a Gotemburgo, de Kircheim-unter-Teck, na Alemanha, a Forssa, na Finlândia, dou-me conta de que há casos em que as da Guarda são, às vezes, superiores);

pela Auto-Neofor, que vai abrir dentro de dias – ademais com um nome bonito -, porque a comprou, assim trazendo uma riqueza à nossa cidade, o que não carece propriamente de grandes elogios, tão evidentemente elogiosa já a atitude é.

A sua generosidade, fácil relacionalidade e valentia, são outros dos manifestos traços do seu carácter.

Procurou a política e afirmou-se nela – como independente.

Nesta “apagada e vil tristeza” que tem sido a gestão “socialista” da nossa cidade tinha forçosamente que destacar-se em grande.

Há que dizê-lo: desde o 25 de Abril até agora, a Guarda – em muitos aspectos uma densa emoção estética – tornou-se de uma arrepiante fealdade; ademais, não pode esquecer-se que Curto está preso, que a vox populi diz que “quem nela manda são os empreiteiros” e que, no actual Executivo, há quem confunda Saragoça com Barcelona…

Parafraseando o luminoso Ortega d’A Rebelião das Massas (“apoderou-se da direcção social um tipo de homem a quem não interessam os princípios da civilização”), dir-se-á que, na Guarda, os sucessivos Executivos nem sequer sabem o que a civilização seja (a fealdade que acabo de referir é o seu correlato). E parafraseando um dito castrense (“honras, prazeres e continências”) dir-se-á que aos elementos que os têm integrado – a excepção para confirmar a regra – lhes saiu uma verdadeira sorte grande – um bambúrrio total – porque a sua categoria é o perfeito anonimato. Dispenso-me de apresentar episódios ilustrativos e, por outro lado, com Crespo de Carvalho a Cultura potenciar-se-á.

Crespo de Carvalho não precisa, pois, de sair do anonimato para se afirmar – já se afirmou -, nem de ser autarca para governar a vida com horizontes – já a governa agora.

O Senhor Engenheiro deve – absoluta e decididamente – avançar para presidente da Câmara e, daqui, aproveito para louvar Albino Bárbara pelo seu tão certeiro texto sobre esta mesma “matéria”, surgido no “Nova Guarda”.

Sabedor que “não brinca em serviço”, generoso, valente, polido, irónico, determinado, é perfeitamente claro, repito, que, na Guarda, ninguém pode ombrear com ele para tal cargo.

Que Deus o abençoe, Senhor Engenheiro Crespo de Carvalho.

Guarda, 8-III-05.

Por: J. A. Alves Ambrósio

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