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Encerramento

Um dia fizeram-se contas e concluiu-se que o custo da abertura nocturna dos centros de saúde era exorbitante em relação ao serviço efectivamente prestado. E era verdade. Nos centros de saúde de Almeida, de Figueira de Castelo Rodrigo, de Pinhel, era raro entrar alguém nas urgências durante a noite e, se entrasse e se fosse efectivamente uma urgência, o mais certo era ter de ser de imediato encaminhado para a Guarda. Aqui estavam os meios de diagnóstico e tratamento que faltavam além. Encerrando esses centros de saúde e muitos como eles por este país fora acabavam por se poupar milhões, reduzindo-se assim o défice.

Fizeram-se também contas às inúmeras escolas primárias que se mantêm em funcionamento com três, quatro, dez alunos e concluiu-se que são muitas centenas. Olhou-se em primeiro lugar para o horror pedagógico que é haver crianças que não tenham colegas da sua idade, que sejam os únicos na primeira, na quarta classe. Pensou-se também nos custos dessas escolas, do custo por aluno do seu funcionamento, totalmente desproporcionado, e era outra vez o défice a falar, e com justeza, que esse é um dos piores males da nação, susceptível de comprometer o futuro dos nossos filhos se não for resolvido agora.

Olharam depois para os tribunais e concluíram, com a mesma justeza, que não se justifica manter aberto um tribunal para meia dúzia de processos. Melhor seria remeter esses poucos processos para um tribunal com mais movimento, criando economias de escala e ganhos de eficiência, para além, claro, de se pouparem milhões em diminuição de custos. Mais uma vez o défice e, mais uma vez, com razão.

Fizeram-se também contas à taxa de natalidade e concluiu-se, com base em números irrefutáveis que a média nacional era de 1,4 filhos por mulher, baixando esta no interior para uns catastróficos 1,1 filhos por mulher. Significa isto que a sangria populacional do interior irá aumentar drasticamente no futuro próximo. Significa também que há maternidades redundantes e que não se justifica já manter a abertura de todas as existentes. Sobretudo quando temos o gravíssimo problema do défice para resolver. Não queremos sobrecarregar os nossos filhos, ainda por cima quando sabemos que vão ser poucos, menos do que nós, e que vão ter graves problemas, que lhes estamos a deixar, por resolver. Ou queremos?

Tudo isto faz sentido. Cada uma destas medidas, isoladamente encarada, tem por detrás de si uma lógica implacável, dificilmente refutável. Não faz de facto sentido manter aberta uma escola para três alunos, um tribunal para poucas dezenas de processos, uma maternidade num sítio onde nascem poucas crianças.

Também não faz sentido ir viver para um sítio que não tem escolas, tribunais, maternidades, centros de saúde abertos toda a noite. Um sítio que não tem serviços e de onde a classe média, a que paga impostos, gasta dinheiro e indirectamente cria empregos, está a sair, ao menos a classe média constituída por professores, médicos, funcionários públicos. Nem, já agora, faz sentido ficar lá.

Por: António Ferreira

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