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Empresários da Beira Interior querem mais que o PRASD

Medidas continuam a ser «insuficientes», lamentam dirigentes do Nerga e Nercab, para quem o interior sofre sobretudo pela falta de união em reivindicar

O Programa de Recuperação de Áreas e Sectores Deprimidos (PRASD) não caiu no goto dos dirigentes empresarias da região. Nesta altura do campeonato, apenas Jorge Patrão, presidente da Região de Turismo da Serra da Estrela (RTSE), se congratulou com o plano de acção sugerido por Daniel Bessa, que defendeu a necessidade de apostar na marca Serra da Estrela. É um bom ponto de partida, admitem Teixeira Dinis e João Fernandes Antunes, presidentes do Nerga e Nercab, respectivamente, para quem o desenvolvimento do interior só acontecerá quando houver união regional para exigir investimentos. O estudo de Bessa realça a acentuada perda de população da Beira Interior, cuja taxa de crescimento populacional situa-se em –2,8 por cento, o seu envelhecimento e uma preocupante desertificação, já que mais de 50 por cento dos seus habitantes se concentra no eixo estruturante constituído pela A23 entre a Guarda, Covilhã, Fundão e Castelo Branco. Para além deste problema, o economista refere a recente crise do sector têxtil e vestuário e a consequente perda de milhares de postos de trabalho. Em contrapartida, Daniel Bessa destaca o facto da Beira Interior albergar uma das maiores e mais bem sucedidas unidades industriais europeias na produção de tecidos de lã (o grupo Paulo de Oliveira), considerando ainda ser «fundamental» concretizar o regadio da Cova da Beira para desenvolver o sector agro-pecuário. Já o projecto do Parkurbis, na Covilhã, merece uma menção de destaque, por poder contribuir para a atracção de iniciativas empresariais de maior intensidade tecnológica. O documento não faz qualquer referência à Plataforma Logística da Guarda, mas realça a importância da notoriedade da marca Serra da Estrela, aconselhando a que seja «mais explorada, devendo mesmo ser estudada a possibilidade de esta marca poder vir a suportar vários produtos da região». Nesse sentido, o economista defende a concessão de apoio público. O mesmo acontecendo para o Douro.

Para Teixeira Dinis, da Associação Empresarial da Região da Guarda, as medidas para o desenvolvimento interior continuam «a não ser suficientes, têm sido poucas e sem resultados práticos». O empresário defende por isso uma união de vontades e reivindicações de «Bragança ao Alentejo» para levar a que o Governo aposte em medidas com resultados «mais práticos» que os conseguidos até agora, porque as adoptadas «não têm sido boas». Na sua opinião, o trabalho feito por cada núcleo empresarial tem sido positivo, mas é preciso haver «mais união, porque senão não temos hipóteses». Considera, por outro lado, que os Governos da Nação têm que se «empenhar mais para com o interior, onde há muito pouca gente que aufere destas medidas. É preciso definir outros rumos», exige. Uma opinião partilhada por João Fernandes Antunes, da vizinha Associação Empresarial de Castelo Branco. O dirigente acha que as medidas apresentadas «nunca são suficientes», uma vez que não chegam a gerar «frutos», como a criação de empresas e emprego. «Estes é que são verdadeiramente essenciais para o desenvolvimento da região e sem eles como alvo qualquer programa não tem efeito», constata Fernandes Antunes.

«Ao identificar o turismo com o potencial de desenvolvimento da região, os distritos da Beira Interior deveriam unir-se em defesa de um investimento forte nessa área, de um projecto global. Acho que o Governo não ia dizer que não às nossas reivindicações, porque até criou instituições que podem ajudar nessa estratégia comum de captar investimentos, caso da API», adianta. De resto, o empresário também sublinha que o que falta no interior é união. «Conseguiríamos chegar mais rápido aos nossos objectivos. Não pode ser o Governo a resolver o nosso problema, nós é que devemos exigir e decidir quais os investimentos que deveriam ser feitos». Optimista com o PRASD só mesmo Jorge Patrão, embora o presidente da RTSE se diga preocupado com a intenção de deixar fora do programa os concelhos da Guarda e Covilhã, que, por isso, «poderão ver prejudicadas, em termos de investimento turístico, intenções empresariais e levar essa situação à perda dos motores regionais». Na Câmara da Guarda, ninguém esteve disponível para comentar este programa.

Luis Martins

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