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Empresa de inserção social em Cantar Galo não está a resultar

António Freire pouco satisfeito por ter enveredado por esta via

A 24 de Novembro de 2003 foi inaugurada, em Cantar Galo, a segunda empresa de inserção social da região na área da panificação, um projecto do centro de dia daquela freguesia financiado pelo Centro de Emprego da Covilhã. Na altura, pretendia-se inserir no mercado de trabalho desempregados há mais de um ano e pessoas que precisassem de reorientar a sua vida pessoal e profissional.

Assim nasceu a pastelaria “Doce Tentação”, que empregou de imediato 12 trabalhadores, um dos quais ex-recluso. António Freire, presidente do Centro Social de Cantar Galo, pretendia «minorar os problemas sociais locais», mas, quase dois anos depois, o balanço não é o mais positivo. Aquele responsável mostra-se mesmo «um tanto ou quanto arrependido» por ter avançado com o projecto. É que só já restam quatro funcionários dos 12 iniciais. «Tivemos que ir mandando embora os restantes», vai dizendo, devido à «instabilidade» e «irresponsabilidade» da maioria dos indivíduos inseridos. «Chegámos a ter aqui situações de zaragatas complicadas», refere, acrescentando que a situação chegou muitas vezes a ser insustentável: «Não lhes podíamos dizer nada ou tentar ensiná-los», recorda, adiantando que o ex-recluso que participou no arranque da “Doce Tentação” «até se portava de forma exemplar no início, mas depressa enveredou pelo pior caminho possível».

Mas este não foi caso único. «Também despedimos por justa causa uma ex-alcoólica que não se conseguiu emendar», refere. Uma instabilidade que teve consequências no negócio, pois as queixas dos clientes acumularam-se e a própria actividade esteve em risco. «Há dias em que a pastelaria sai bem, mas no dia seguinte pode ser um desastre pegado», lamenta António Freire. Por isso, o presidente está agora apostado em acolher apenas desempregados, uma possibilidade também contemplada no projecto inicial, que dura sete anos. «Infelizmente, existe muita gente nessa situação e é mais fácil encontrar pessoas de bem», considera, acrescentando que «perdeu a fé» nos recuperados. «Pouco tempo depois voltam a cair no mesmo inferno, sobretudo os mais jovens», garante, desiludido. Ainda assim, António Freire admite que talvez precisassem de «um maior acompanhamento psicológico e até de apoio médico, mas nós não temos aqui essa possibilidade», explica.

A falta de formação dos inseridos é outro dos problemas. A pensar nisso, o presidente do Centro Social de Cantar Galo quer promover um curso de pastelaria em parceria com o Centro de Emprego da Covilhã. Ainda no âmbito da formação, coloca-se outro problema ao bom funcionamento da “Doce Tentação”, já que o projecto inicial implica que a inserção dure apenas dois anos. Findo esse prazo, os trabalhadores têm de ser substituídos, «quando já aprenderam alguma coisa», desabafa. Por outro lado, e quando o projecto chegar ao fim, o responsável garante que vai mesmo «saltar fora», apesar das «dificuldades económicas» sentidas pela empresa. Embora confesse já ter tido momentos de «grande arrependimento», António Freire reconhece que o projecto trouxe «vida» à zona envolvente do centro de dia e garantiu a totalidade do financiamento para a requalificação do edifício onde funciona a pastelaria, que antes se encontrava degradado, e para os equipamentos.

Rosa Ramos

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