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Emprego feminino tem mais dificuldade em resistir à crise

Portugal foi, como Estado, incapaz de garantir a sua solvência e ainda no quadro do anterior Governo teve de pedir assistência externa, assinou um conjunto de compromissos e perdeu, transitoriamente, uma parte da sua soberania. Tivemos assim, por um lado, um PS, porque encabeçava o Governo que pediu ajuda externa; e o PSD e o CDS, que tiveram o patriotismo de perceber que, sem essa ajuda, devida a causas de que discordavam profundamente, era a própria viabilidade do país que entraria em colapso. É o que acontece quando a prudência na gestão das contas públicas é substituída pela política de gastar acima do que podemos e endividar acima do que devemos. Hoje, sem ignorar as dificuldades, Portugal está bem mais longe desse precipício e é notável o esforço que os portugueses fazem para conseguir progredir e garantir que o mal maior não lhes acontecerá. Porém, as vozes do abismo vão referindo, o que é sempre mais confortável dizer quando se teve responsabilidades em toda a irresponsabilidade política, que Portugal andou para trás. Contudo, só é verdade no sentido em que Portugal estava, há um ano, em frente do precipício. Pois, quando se pretende afirmar que há uma regressão financeira implica, por exemplo, ignorar que desde janeiro deste ano se regista uma clara diminuição dos diferenciais de juro das obrigações portuguesas em todos os quadros.

Na verdade, todos pretendemos que este período difícil termine antes e não depois e que o Portugal pós-crise seja um país com oportunidades, muito mais moderno, competitivo, atraente e solvente.

Porém, o massacre maior de toda esta situação é mais evidente no feminino do que no masculino, muito embora o artº 13º da Constituição da República Portuguesa identifique que: «1. Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei. 2. Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica ou condição social». Contudo, o mundo não mudou no ápice desejável, nem vai mudar no minuto seguinte. Apesar da legislação que a impede, continuamos a assistir a uma forte fragilidade nas mulheres trabalhadoras que são ainda confrontadas com situações de discriminação. Para tal, bastará centrarmo-nos nos dados recentes do INE, PORDATA, onde na sua última atualização, 2012-06-20, indica que a taxa de emprego total por sexo (%) é de 60,7 nos homens e de 47,7 nas mulheres. Forte contributo para estes dados teve recentemente a empresa Rádio Altitude ao dispensar três colaboradores, todos eles mulheres, ficando desta forma sem o equilíbrio feminino no seu quadro de pessoal, lamentável este fato, porém não pode ser lido à média luz, da mera contenção financeira, há aqui algum pendor da estratégia empresarial que precisa, que urge, ser repensada, pois trata-se de uma “Rádio com história”, que marca também uma história neste indicador.

Na verdade, poucas vozes se ouviram sobre este assunto mas tenderemos, através deste critério, para uma sociedade empresarial bastante discrepante do expectável no mundo e na era em que vivemos, onde parece que teremos que continuar a apelar por uma igualdade de oportunidades. Onde estão os estudos, que de resto abundam em várias áreas, e que invocam a necessidade do equilíbrio feminino nas organizações, que informam da grande transformação de organizações estáticas para a modernização de organizações aprendentes. Será que todos, mesmo na cidade de Carolina Beatriz Ângelo, já nos esquecemos deste verdadeiro valor? Ter-nos-emos esquecido que numa sociedade de raízes profundamente matriarcais, as exigências sociais das mulheres são muito diferentes das esperadas dos homens, onde nesta sociedade ativa, competitiva e que se pretende igualitária ainda cabe à mulher exigir a si mesma uma carreira bem sucedida, além de que se exige que seja boa mãe e até boa esposa.

É esta sociedade participativa que queremos construir? Nunca pensei escrever sobre este assunto, mas fez-me pensar no quanto o mesmo é tremendamente atual. Que pena!

Por: Cláudia Teixeira

* Deputada eleita pelo CDS-PP na Assembleia Municipal da Guarda

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