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Emigrantes desconhecem métodos de pagamento de portagens na A25

Há quem admita que já circulou na auto-estrada sem pagar e nenhuma multa foi parar ao país onde se encontram a residir

O Governo disponibilizou recentemente dois novos sistemas de pagamento de portagens eletrónicas para veículos de matrícula estrangeira que circulem nas antigas SCUT’s, mas os muitos emigrantes que nesta altura regressam a Portugal por Vilar Formoso continuam a queixar-se de falta de informação. De resto, há até quem admita que já circulou na A25 sem pagar e, apesar disso, nenhuma multa foi parar ao país onde residem.

Adelino Madeira chegou à fronteira por volta do meio-dia da última sexta-feira e desconhecia por completo os novos métodos de pagamento, admitindo estar «mal informado porque vim cá no ano passado e não foi preciso pagar. Isto está sempre a mudar de ano para ano e não estou bem por dentro do que se está a passar». O emigrante em França que ia seguir viagem para a região de Coimbra considera que «seria melhor e mais rápido» se houvesse cabines para pagar as portagens. Igualmente vinda de França, Rosa Barroso também não estava familiarizada com as formas de pagamento para circular nas antigas SCUT’s e só depois de ter ido a um café em Vilar Formoso é que recolheu mais informação: «Acabei de ser informada porque fui comer a um café e a senhora disse-me que já íamos pagar à entrada na A25», adianta. A caminho da zona de Aveiro, esta luso-francesa garante que não se importa de pagar, mas tem noção que «há pessoas que não têm muito dinheiro e que para trabalhar têm que passar nas auto-estradas e isso é mau para elas».

De igual modo, Fernando Marques reclama que «não há explicação nenhuma [em Vilar Formoso] para uma pessoa poder comprar um ticket, uma vinheta ou qualquer coisa», sublinhando que «só no café é que me explicaram alguma coisa e a maioria dos carros vai direto por aí abaixo», vaticinando que vai haver «muitas pessoas a passar sem pagar, sobretudo de noite». Este emigrante no Luxemburgo recorda que da última vez que veio a Portugal, em dezembro, já havia portagens na A25, mas revela que nos correios lhe disseram que «não tinha que pagar nada e assim foi», não tendo tido posteriormente «quaisquer problemas com multa». A jovem Joana Bastos também já circulou sem pagar nas SCUT’s e nada aconteceu: «Viemos cá em dezembro e já havia portagens. Pagámos uma vez e depois nunca mais o fizemos e não houve problema nenhum, até agora. O meu pai queria informar-se porque já ouvimos dizer que agora era obrigatório, mas não há informação aqui na fronteira», lamentou.

«Identificado» com as novas formas de pagamento estava José Martins, emigrante na Suíça, que sustentou que «seria melhor se houvesse portagens. Chegar lá, ter as caixas para pagar e depois só se pagava quando se saía, não em vários sítios», sugeriu.

Também há crise lá fora

Os vários emigrantes entrevistados na fronteira de Vilar Formoso por O INTERIOR garantem que a crise financeira também já se sente nos países onde residem e trabalham. Contudo, asseguram que continua a compensar viver no estrangeiro.

José Martins, de Oliveira do Hospital, está na Suíça há oito anos, onde trabalha na construção civil e conta que a crise já se fez sentir «um bocado» em terras helvéticas «pelo menos este ano», embora nos meses de verão tenha por lá «”rebentado” muito trabalho», mas houve «muita gente que só começou a trabalhar em junho e julho». Contudo, afirma que, «por enquanto, vai havendo trabalho, pelo menos nunca faltou». Em França está Rosa Barroso, que também diz sentir «muito» na pele os efeitos da crise no seu quotidiano, dando o exemplo que os impostos estão «sempre a subir». No país onde nasceu há 42 anos, esta luso-descendente assegura que em França «também já está muito mau» e embora diga que o seu «coração» esteja em Portugal, onde «gostava de viver», sublinha que tem o seu trabalho «lá» e não pode fazer o que quer.

Igualmente em França está Adelino Madeira, para quem a crise «nesta altura está em todo o lado», visto ser «um problema mais ou menos mundial». Este emigrante que trabalha no sector da construção civil na região de Paris há 20 anos refere que em França há «sempre muito trabalho», embora haja por lá «muita malta que não quer trabalhar porque há muitos subsídios do Estado», considera. Estudante no Luxemburgo, a jovem Joana Bastos confirma que «já não é como era antes», mas continua a não ter dúvidas de que «ainda compensa viver lá». Já Fernando Marques está emigrado no Luxemburgo há 11 anos e também corrobora que a crise «vai-se sentindo mais nuns países do que noutros», sustentando que «é como em qualquer lado» e «quem já tem o seu trabalho fixo vai-se aguentando, mas para uma pessoa que vá de novo já é muito difícil».

Remessas de emigrantes ultrapassaram mil milhões de euros

As remessas dos emigrantes cresceram 17,7 por cento nos primeiros cinco meses deste ano face ao período homólogo de 2011, atingindo os 1.049,3 milhões de euros, segundo os dados mais recentes do Banco de Portugal (BdP).

O país de onde chega mais dinheiro é a França, com 343,9 milhões de euros, seguido da Suíça, com 239,7 milhões. A Alemanha (70,9 milhões), os Estados Unidos (56 milhões) e a Espanha (50,2 milhões) completam os primeiros cinco lugares. Do Reino Unido chegaram 48,3 milhões de euros, do Luxemburgo 29,3 milhões, do Canadá 18,2 milhões, da Venezuela 5,8 milhões e do Brasil 4,3 milhões. Os restantes países enviaram em conjunto 119,3 milhões de euros. Ainda de acordo com o BdP, os depósitos feitos por emigrantes em bancos portugueses caíram 8,9 por cento nos primeiros cinco meses deste ano, passando de 37,3 milhões de euros de janeiro a maio de 2011 para 34 milhões no mesmo período de 2012.

No último domingo, na fronteira de Vilar Formoso, o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas afirmou que os emigrantes continuam a ser «o grande fator de animação» da economia nacional. José Cesário participou na campanha de segurança rodoviária “Sécur’été” dirigida aos milhares de emigrantes que estão a chegar a Portugal, promovida pela associação de jovens lusodescendentes Cap Magellan.

Ricardo Cordeiro Vai haver «muitas pessoas a passar sem pagar, sobretudo de noite», disse um emigrante

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