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Em torno a D. Pedro IV

Opinião – Ovo de Colombo

No passado dia 24 de setembro assinalaram-se os 180 anos do falecimento de D. Pedro IV de Portugal (D. Pedro I do Brasil), no mesmo aposento do Palácio de Queluz, onde nascera em 1798. Filho de D. João VI e D. Carlota Joaquina, o infante acompanhou a família real portuguesa e cerca de 15.000 pessoas que, em novembro de 1807, embarcaram para o Brasil, na iminência da chegada das tropas napoleónicas à capital do reino. É na colónia transatlântica que o infante D. Pedro assiste à coroação do pai, em 1816, e onde, no ano seguinte, se casa com D. Leopoldina, Arquiduquesa de Áustria – um feito inusitado para uma princesa europeia, como constatava a imprensa internacional da época.

Com o regresso de D. João VI a Portugal na sequência da Revolução Liberal de 1820, D. Pedro permanece no Brasil enquanto príncipe regente, tornando-se responsável pela independência da colónia em 1822. Mas os acontecimentos em Portugal, com a morte do pai e aclamação em Cortes do irmão D. Miguel como rei absolutista, impeliriam D. Pedro a retornar à Europa para defender os interesses da filha D. Maria da Glória, para quem tinha abdicado do trono português, acompanhado de uma Carta Constitucional (1826).

Consciente de um novo mundo gerado pela Revolução Francesa, D. Pedro não poderia permitir que o reino retrocedesse à velha ordem absolutista. Disso mesmo dava conta numa carta de 1832: “no século em que vivemos e em que os Povos […] já não engolem patranhas, é mister que seus Reis mereçam pelas suas boas qualidades o respeito dos seus súbditos e não pelo seu nascimento, que de nada vale perante o mundo livre.” Após vários anos de violenta guerra civil entre liberais e absolutistas (1828-1834), quatro meses após a Convenção de Évora-Monte que colocava fim aos confrontos com a rendição e exílio de D. Miguel, no Quarto D. Quixote do Palácio de Queluz morreria D. Pedro, Duque de Bragança, aquele que abdicara de duas Coroas (Portugal e Brasil) para defender os valores ideológicos em que acreditava.

Com o propósito de evocar um personagem tão estimulante, o Palácio Nacional de Queluz promoveu uma remusealização do Quarto D. Quixote e uma revalorização dos espaços adjacentes, exibindo vários objetos pessoais de D. Pedro e diversas obras de arte, algumas originárias de outros acervos nacionais. Resultado de investigação histórico-artística e levantamento documental, o projeto conta ainda com vários suportes interpretativos digitais e uma biografia cronológica online. É ainda de salientar a exposição virtual “D. Pedro d’Alcântara. Notas Iconográficas de uma Vida”, disponível no Google Art Project, primeira do género a ser realizada por uma instituição museológica portuguesa. Em jeito de catálogo digital, é aqui possível consultar várias imagens em alta definição, muitas das quais acompanhadas de textos introdutórios, perfazendo uma breve história ilustrada deste período tão intenso e refundador da História de Portugal.

Tânia Saraiva *

* Historiadora e crítica de arte. Professora universitária.

Para consulta:

Exposição Virtual: https://www.google.com/culturalinstitute/exhibit/AQYreTJw

Minissite: http://dpedroiv.parquesdesintra.pt

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