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«Em política não há gratidão»

Aguiar da Beira homenageou Dias Loureiro e mais 119 autarcas eleitos desde 1974

Os amigos são para as ocasiões, como pôde comprovar Manuel Dias Loureiro no passado dia 10. De regresso à sua terra natal e longe do polémico caso do BPN, o antigo administrador da Sociedade Lusa de Negócios (SLN) foi um dos homenageados pela Câmara de Aguiar da Beira. No meio de amigos, o ex-presidente da Assembleia Municipal entre 1997 e 2005 até desabafou que «em política não há gratidão», mas nada disse sobre o inquérito ao BPN.

A cerimónia destinava-se a recordar o trabalho dos 120 autarcas eleitos desde 1974, só que o centro das atenções acabou por ser o “filho” mais ilustre da terra. Pela notoriedade do caso BPN – por causa do qual se demitiu de Conselheiro de Estado – e também pelo seu «esforço e empenho» na construção do novo quartel dos bombeiros locais em 1993, quando era ministro da Administração Interna no Governo de Cavaco Silva. Além disso, a família Loureiro é uma verdadeira instituição em Aguiar da Beira. Tanto assim, que, a par do filho, o pai Albano Pinto Loureiro recebeu, a título póstumo, a medalha de mérito por ter sido vereador na autarquia. Uma distinção extensiva à mãe, Maria da Luz Loureiro, ex- -deputada municipal. Tudo isto conjugado terá levado Fernando Andrade, autarca local, a encarregar Dias Loureiro, de 57 anos, de falar em nome dos homenageados. «Em política não há gratidão, mas este acto reflecte o agradecimento e a gratidão dos autarcas actuais pelos seus antecessores, o que é de louvar», começou por dizer.

Depois, o ex-ministro olhou para trás e constatou que a vila natal «mudou muito» nestes últimos 20 anos. «Isso deve-se a muita gente, aos que aqui viveram, estudaram e investiram. São muitos milhares de pessoas», acrescentou, considerando que «a obrigação de cada geração é deixar algo mais à seguinte, é assim nas famílias, nos municípios e devia ser assim no país». Dias Loureiro deixou o palco debaixo de uma calorosa salva de palmas e procurou sair do auditório municipal o mais depressa possível. A homenagem estava feita e a festa acabada, não sem mais uns apertos de mão e palmadas nas costas enquanto se dirigia para o carro. Aos jornalistas, Fernando Andrade fez eco do estado de alma da maioria dos aguiarenses: «Para mim, foi uma surpresa muito grande o que tem vindo a lume na comunicação social. Só lamento que os media julguem as pessoas antes da Justiça, pois toda a gente é inocente enquanto a sentença não transitar em julgado», disse.

Para o autarca – de que Dias Loureiro foi presidente da Assembleia Municipal no seu primeiro mandato –, esta homenagem «é justíssima» e, apesar de simples», foi «do fundo do coração». «Todos se dedicaram, como ele, à causa de um concelho sem receber nada em troca», justificou. Reiterando, que o antigo ministro é «a pessoa mais ilustre» do concelho, o presidente da Câmara garante que, tal como ele, «os aguiarenses revêem-se naquilo que é Dias Loureiro, no que tem feito em prol do concelho e do país».

Luis Martins «A obrigação de cada geração é deixar algo mais à seguinte, é assim nas famílias, nos municípios e devia ser assim no país», disse Dias Loureiro

«Em política não há gratidão»

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