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“Em nome da Guarda” (II)

… «Ceder um pouco é capitular muito», disse, salvo erro, Marx, que, aqui, pode citar-se.

“Deve obrigar os possuidores de cães que com eles passeiam pela rua a comprar sacos de plástico para levarem os excrementos, precisamente o que se faz em qualquer parte da Europa que conheço”, disse eu um dia a Valente. A resposta: «Mas como posso fazer eu isso na Guarda?».

Valente é medroso, está nos antípodas de alguém com potência para imprimir carácter. O cão que faz um monte à entrada do prédio ou o outro, acompanhado pelo dono, que faz igual serviço no logradouro da capela do Bonfim, isto, tudo o indica, são minudências para Valente.

A quantidade de pessoas a que Curto deu entrada na Câmara valiam-lhe dois ou três vereadores, sabe-se. Com Maria do Carmo continuaram a entrar; e as admissões continuaram com o Eng.-Técnico. Não é preciso ser-se hiperestésico para concluir quanto superavit de cidadania enforma tais admitidos, nem adivinho para concluir do endividamento – em vez do investimento – da Câmara. A denominada PLIE revela, tão-só, uma postura fascista (fascismo: irracional emergente em acção).

O que pede o favorzinho para o seu estabelecimento, ou sabe-se lá para quê, é um voto garantido e – ao seu nível – um compincha-vassalo do poder. Estamos na pérfida situação do ut des (toma lá, dá cá). Assim se forma uma rede tentacular poderosa. No fundo, o suserano sabe-se um débil e os seus pares outro tanto (o suserano é apenas o primus inter pares), donde uma mesnada – no mínimo – sempre pronta para actuar. Não mesnada – melhor: uma SA.

Este jornal não merece parabéns nenhuns por ter titulado “Valente absoluto” a seguir às autárquicas, mas merece-os – em absoluto – pela fotografia. Os rostos de apoiantes que nela aparecem são eloquentes quanto baste. E o leitor Manuel dos Santos é um grande. Não me admirava que o equilíbrio do seu texto – com o qual, todavia, não concordo em absoluto – fosse o de um “balança”.

Recorde-se o texto. Manuel dos Santos insurge-se – e muito bem – contra a conferência de imprensa de Bento. Ora, este, antes de mais nada, devia explicar minuciosamente aos egitanienses e ao concelho quem, quando, como, porquê e para quê fez o serviço que fez, desde o arranque de cartazes até às intercepções e agressões havidas que conduziram, inclusivamente, a queixa na PSP – sem esquecer a funcionária da Câmara “apanhada com a boca na botija”. A avantajada ausência de sentido do ridículo não é ciência que Bento domine. Aliás, há já quantos anos é que, neste jornal, se publicou uma crónica sobre Bergílio Vento?

O desespero de Valente, a que Manuel dos Santos alude na sua carta, dá uma dimensão do tamanho do amigo de Sócrates; uma dimensão multímoda, claro. Com os camaradas “chuchas” – são as instâncias internacionais que o afirmam – o nosso País está mais pobre, mais corrupto e com uma liberdade de imprensa que fez um dirigente do Mali comparar-se com… Portugal. Não admira que o fascismo esteja em crescendo. O piramidal “pai” da pátria e fundador do Partido “Socialista” não afirmou ele, um dia, que «em Política, feio, feio é perder»? Podia a lei do vale tudo ser mais explicitamente enunciada?

Não ouvi as declarações de Crespo de Carvalho a que Santos alude. A esse respeito nem sequer devia ter assumido a derrota, antes repetir D. Pedro em Alfarrobeira: «É fartar, vilanagem!» Pois não foi um antepassado de Crespo de Carvalho que desafiou um Governador-Geral de Angola no gabinete deste? Os Crespos, é sabido, são Crespos de… Carvalho.

Ah! Aos intelectuais da praça também não se ouviu um comentário de reprovação pela vilanagem. Andarão eles todos contentes a assobiar para o lado?

25-X-09

Por: J. A. Alves Ambrósio

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