Arquivo

Em jeito de homenagem a Veiga Simão

Editorial

1. Físico de formação, professor universitário por vocação e ministro por “obrigação” José Veiga Simão faleceu na passada semana, com 85 anos. Autor da reforma do ensino no final da ditadura, e que ficou conhecida pelo seu nome, foi ministro da Educação de Marcello Caetano e elemento preponderante pela influência da sua política educativa na primavera marcelista. Voltaria ao governo depois da Revolução, nos governos socialistas, para continuar o seu programa de universalização da Educação, combate ao analfabetismo e reorganização do ensino superior.

Com apenas 31 anos Veiga Simão já era professor catedrático da Universidade de Coimbra, de onde partiu com a incumbência, legada por Oliveira Salazar, de ajudar a construir a primeira universidade de Maputo (então Lourenço Marques) de que viria a ser reitor. Sucedeu a José Hermano Saraiva, em 1970, como ministro da Educação implementando uma profunda reforma no ensino, começando desde logo pela base, alargando a escolaridade obrigatória e gratuita para oito anos e apostando o ensino técnico, que o 25 de abril viria a suspender. Desde Lourenço Marques lançou as sementes para o aparecimento de novas universidades em Portugal, ao apoiar doutoramentos em Inglaterra, contribuindo decisivamente para o nascimento das universidades do Minho, de Aveiro, do Algarve, da Nova de Lisboa e da Beira Interior – que se pretendia um projeto aglutinador entre Guarda, Covilhã e Castelo Branco, então sedeado na “Manchester portuguesa” precisamente pela enorme crise em que mergulhara. Os guardenses não perdoariam a Veiga Simão que tivesse optado por instalar o IUBI – instituto politécnico e universitário da Beira Interior – na Covilhã em detrimento da Guarda natal, e exigiram mais tarde em Assembleia Municipal que a Guarda tivesse a “sua” universidade declinando a sugestão ou convite de integrarem, na génese, a Universidade da Beira Interior (aquilo que então encheu de orgulho os deputados guardenses e os respetivos autarcas, já com Abílio Curto à cabeça, com Rogério Nabais a interpretar os desígnios com um discurso inflamado e aplaudido em uníssono, segundo rezam as crónicas, seria uma machadada no futuro da cidade). E promoveu a criação de um “binário compensado” (universidades e politécnicos) determinante para o alargar da rede de ensino superior a todo o país (e vencendo finalmente o monopólio pluricentenário de Lisboa, Porto e Coimbra) e que permitiu que o ensino superior se instalasse na Guarda. Veiga Simão, que foi também ministro da Indústria e Energia com Mário Soares e ministro da Defesa com António Guterres, recusou o convite de António Spínola para ser Primeiro-ministro, optando por representar Portugal nas Nações Unidas nesse período tumultuoso e revolucionário. Foi porventura a mais distinta e influente personalidade nascida na Guarda, mas que a sua terra natal quase esqueceu.

2. Três anos depois… a Troika partiu. Mas ficou o programa de austeridade e empobrecimento, de um país onde já não se sonha, e o controlo rigoroso sobre as contas públicas portuguesas: deixamos de ter a visita de análise trimestral, para passar a haver uma visita semestral de observação ao cumprimento do tratado orçamental assinado por PSD, CDS e PS, convém não esquecer. Enquanto Portas celebra o seu 1640 e Passos Coelho recebe o apoio incondicional de Cavaco Silva (que até pergunta pelos agourentos), Seguro não pode escamotear responsabilidades, nem pode ter a veleidade de prometer o que seja, porque até 2035 quem nos emprestou o dinheiro para pagar salários, vai exigir o cumprimento das regras e o pagamento dos empréstimos. O dinheiro não cai do céu, ainda que alguns pensem que sim.

3. A decisão de realizar uma feira de turismo na Guarda foi acertada e redundou num grande sucesso. Mesmo não tendo sido possível contar com a dimensão Ibérica desejada, com a FIT a Guarda voltou a ter um grande evento anual, depois do inexplicável fim da Beirartesanato há cinco anos, com a cidade e a região a corresponderem às mais otimistas previsões (e que até contou com a cooperação de São Pedro que propiciou um verdadeiro verão em exclusivo para os dias da feira).

Luis Baptista-Martins

Sobre o autor

Leave a Reply