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Em casa…

Corta!

Sem estreias que interessem nas salas, como habitualmente vai acontecendo todos os anos durante os meses quentes de Verão, restam-nos os clubes de vídeo. Locais onde podemos sempre rever o que de bom se viu em sala (e já por lá andam Million Dollar Baby – Sonhos Vencidos; Maria Cheia de Graça; Super Size Me; O Aviador; Garden State, entre outros igualmente aconselháveis), ou, por outro lado, recuperar agora aqueles filmes que deixámos escapar em sala na altura da sua estreia. A juntar a estas duas categorias, há sempre os filmes que nunca passaram em sala (caso do documentário The Comedian, com Jerry Seinfeld, que agora chega ao mercado DVD) e cada vez um maior número de clássicos presentes nas suas prateleiras.

Depois de uma estreia em sala, no inicio do ano, pouco menos que desastrosa, tendo ficado em cartaz poucas semanas, O Maquinista, de Brad Anderson, tem todos os ingredientes para se transformar num daqueles filmes de culto que habitam os clubes de vídeo. O efeito de passar a palavra entre amigos jogará importante papel para que isso aconteça e o Corta! tenta dar aqui o seu contributo.

Mais conhecido, falado e comentado, pela transformação física levada a cabo por Christian Bale para interpretar a personagem principal de um homem que já não dorme há um ano (sim, isso mesmo, um ano sem pregar olho), que fez questão de emagrecer uma quantidade imensa de quilos e que surge aqui autêntico esqueleto andante, cadavérico como poucas vezes se viu no cinema, O Maquinista é o resultado de um possível cruzamento entre as mais rocambolescas aventuras kafkianas, as culpas sempre presentes nas personagens de Dostoievski, uns pozinhos de Lynch e uns piscar de olhos às ambiências cronenbergianas. Tudo junto dá um resultado surpreendente.

Rodado em terras de nuestros hermanos, com parte da produção da sua responsabilidade, é interessante verificar como o look USA cinematográfico é tão fácil de passar para a tela, sem ser necessário ir ao país do uncle Sam. Entre o sonho e o pesadelo, Bale é o maquinista do título, que só aos poucos vai percebendo tudo o que de tão estranho vai acontecendo à sua volta. Um filme a ver, preferencialmente, em noite de insónias.

Já aqui se tinha feito no Corta! uma pequena referência a RRRrrrr!!!, de Alain Chabat, aquando da sua estreia em Novembro passado. Na altura, essa referência fazia parte de um olhar sobre alguns trailers. Por aquilo que nos era mostrado deste filme pouca vontade restou para um visionamento. Demasiado estúpido, parecia. Meses depois, filme disponível para ver em casa e… vamos lá dar-lhe uma oportunidade.

Para muitos é o que se pode considerar uns Monty Python franceses. Talvez pela aparente falta de sentido que o humor aqui tem. Quem conheça realmente bem os mestres britânicos não poderá discordar mais. Mas este RRRrrrr!!! consegue realmente surpreender. Afinal o humor não é tão rasteiro como nos queriam fazer crer. Num cenário pré-histórico, as personagens deste filme são apanhadas num momento em que tudo está em descoberta. Linguagem, gestos, costumes, tudo a ser descoberto pela inocência e estupidez de personagens dum tempo passado, mas aqui já contaminado com coisas futuras. Divertido quanto baste para arrefecer estes dias de tanto calor.

Para a semana, um olhar sobre Seinfeld, no momento em que o documentário The Comedian, chega finalmente a Portugal.

Por: Hugo Sousa

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