Arquivo

Em busca da gasolina mais barata

Bombas do distrito ressentem-se com a escalada dos preços dos combustíveis

Em tempo de crise, impõem-se medidas especiais no que toca a abrir os cordões à bolsa. Até já existem sites na Internet que fornecem dicas para que o consumidor possa encontrar os postos de combustível mais baratos. No sítio www.maisgasolina.com é apresentada uma lista actualizada dos locais mais em conta, por distrito.

No caso da Guarda, na última terça-feira, o Feira Nova de Seia liderava a tabela no gasóleo, gasolina sem chumbo 95 e 98 (cobrando 1,340 euros; 1,420 e 1,480 respectivamente). Em segundo lugar surgia o Intermarché de Gouveia (1,360; 1,430 e 1,500). Logo depois, a Galp das áreas de serviço da Guarda (A23) e Celorico da Beira (A25), com 1,416; 1,491 e 1,631. Só que a demanda dos consumidores pelos postos mais baratos e as bombas espanholas tem feito mossa junto de muitos revendedores da região. Em Fornos de Algodres, quando Carla Jerónimo e o marido, gerentes das bombas de gasolina da ponte dos Juncais, chegaram ao negócio – há quatro anos – o gasóleo vendia-se a 71 cêntimos. Na terça-feira, o preço era de 1,416 euros, mais do dobro. A maior quebra faz-se sentir aos fins-de-semana, diz a responsável. É que a concorrência não perdoa: «As bombas maiores estão a fazer preços especiais», refere. Além disso, há o apelo ao boicote aos estabelecimentos maiores, que tem circulado na Internet e via sms. «Mas as pessoas esquecem-se que, no caso dos revendedores, não há aumento da margem de lucro com a subida dos preços», acrescenta.

Num fim-de-semana «bom» – de outros tempos, leia-se – vendiam-se em Juncais «cerca de quatro a cinco mil litros de combustível. Agora, faz-se uma média de 2.600. Uma quebra de quase metade», afirma Carla Jerónimo.

Entre 8 de Maio e a última segunda-feira, os combustíveis tiveram «sete ou oito aumentos» na Repsol do Porto da Carne. Carlos Sequeira, um dos gerentes do posto de abastecimento, confirma que a subida dos preços se tem traduzido num decréscimo no movimento. Como se não bastasse, os clientes – em menor número – abastecem-se de quantidades menores. «Antes, metiam 20 euros, hoje abastecem apenas com 10 ou cinco euros», lamenta, dizendo notar-se que «as pessoas estão a poupar, porque é cada vez mais difícil andar de carro». Na sua opinião, é o interior que sai mais prejudicado com a situação, pois «nas grandes cidades sempre há a alternativa dos transportes públicos, mas aqui a nossa rede é pobre e não satisfaz a população». E o cenário repete-se todos os meses: «A partir do dia 15, os clientes andam “à rasca” e começam a cortar nas despesas», afirma. No Porto da Carne, a quebra nas vendas cifra-se em cerca de um terço comparativamente a 2007.

Em Manteigas, Joaquim Rosa está há 15 anos à frente das bombas de gasolina do Parque da Senhora dos Verdes. Desde então, o negócio tem vindo «sempre a piorar, particularmente no último ano», revela. O desemprego e o aumento dos preços dos combustíveis, aliados aos baixos salários, são as principais razões da quebra nas vendas. «É tudo a ajudar», lamenta o gerente. Mas para combater a crise também há quem opte pelas promoções. Um desconto de cinco cêntimos aos fins-de-semana tem sido a “tábua de salvação” do posto da Fundação D. Laura dos Santos, em Gouveia. Mesmo assim, Rui Reis, que preside à instituição, revela que a quebra nas vendas «já ultrapassa os 20 por cento». A subida dos preços é o principal factor que tem afectado o negócio, mas também «o crescente mediatismo que o tema dos combustíveis tem vindo a assumir», considera.

E Espanha aqui tão perto…

Pouco mais de seis quilómetros separam Almeida da fronteira. João Tiago, um dos sócios-gerentes da Galp, garante que a crise já não é de agora. «Há alguns anos que se sente uma enorme quebra, desde que os espanhóis baixaram os preços», recorda. Actualmente, as perdas situam-se na ordem dos 70 por cento e não há promoção que garanta a recuperação milagrosa. Comparativamente a 2007, a gasolina sem chumbo 95 aumentou 32 cêntimos e o gasóleo 16. «Já ponderámos fechar, mas como a empresa tem outros ramos de negócio vamos subsistindo», adianta. Contudo, o proprietário constata que os clientes diminuem de dia para dia. «E há mesmo quem só abasteça cinco euros», diz. O suficiente para chegar à fronteira.

Na Repsol do Sabugal tem havido dias em que não se vêem clientes e se as coisas não mudarem, o posto poderá encerrar já no final do ano. José Lindeza, sócio-gerente, revela que no ano passado as vendas baixaram cerca de 40 por cento, mas este ano o cenário está ainda mais negro. «Estamos a apenas 45 quilómetros de Espanha e a concorrência é imbatível», justifica. De resto, não é só no gasóleo e na gasolina que os espanhóis levam a sua. Em Portugal, uma garrafa de gás custa 20,90 euros. Do outro lado da fronteira são 12,25. No último fim-de-semana, as bombas facturaram «apenas» 2.200 euros, pelo que José Lindeza prefere «nem comparar» com outros períodos.

Preço mais caro em Portugal do que em Espanha por causa dos impostos

O preço médio de venda ao público dos combustíveis só é mais caro em Portugal do que em Espanha devido ao peso dos impostos. A conclusão vem no relatório da Autoridade da Concorrência (AdC), divulgado na terça-feira.

«Constata-se um diferencial estatisticamente nulo do preço médio de venda ao público antes de impostos daqueles combustíveis entre Portugal e Espanha», sublinhou o presidente da AdC durante a sua audição no Parlamento. Manuel Sebastião apresentou uma síntese dos resultados da investigação dos preços dos combustíveis pedida pelo ministro da Economia e Inovação, Manuel Pinho. Assim, a principal componente da formação dos preços de venda ao público no nosso país é a carga fiscal (imposto sobre os produtos petrolíferos e IVA), que corresponde a 59,2 por cento do preço da gasolina 95 e a 47 por cento do preço do gasóleo. O preço à saída da refinaria representa, no caso da gasolina, cerca de 31,4 por cento do preço e, no caso do gasóleo, cerca de 42,2 por cento. Já a componente retalhista corresponde a cerca de oito por cento do preço do primeiro combustível e 9,2 por cento do segundo. Para o preço final de venda ao público contribui ainda a armazenagem e o transporte, factores que equivalem a 1,4 por cento na gasolina e a 1,6 por cento no gasóleo.

Rosa Ramos

Sobre o autor

Leave a Reply