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Elites Guerreiras

Nos Cantos do Património

É com o período do Bronze Final, na transição do II para o I milénio antes de Cristo, que começam a surgir evidências da existência de comunidades hierarquizadas, com chefes, cujo poder se baseava numa simbologia guerreira e religiosa. Representam aquilo que é definido pelos investigadores como a complexificação das sociedades. Entre essas evidências destacam-se os machados de metal, que já aqui referimos (o artigo Símbolos de Poder). De facto, o poder destas elites resulta da pastorícia, mas sobretudo do domínio do território em torno dos seus povoados, onde se exploravam os minérios e por onde passavam as rotas inter-regionais. Diversos exemplares foram encontrados na Beira Interior, como o depósito de Porto de David (Pinhel).

O estudo do espólio, resultante da escavação arqueológica de necrópoles deste período, demonstra também a existência dessas elites. Embora tipologicamente as sepulturas sejam idênticas, o espólio que se encontra no seu interior denuncia o enterramento de indivíduos com status social diferente, destacando-se contas de colar, fíbulas… Mas podemos também encontrar referências a estes indivíduos nas estelas-ménires, pedras onde eram gravadas diversas representações simbólicas, estilizadas. Por norma, surge uma figura humana com a representação de diversos objectos de conotação guerreira, como espadas, escudos, lanças, entre outros, ou de conotação de elite, como fíbulas, pentes, jóias de ouro. As representações, principalmente os utensílios bélicos, demonstram a existência de uma elite guerreira. No concelho do Sabugal foram encontrados dois exemplares, um em Baraçal e uma segunda em Foios.

As estelas-ménires eram colocadas ao alto, demarcando o território, certamente com uma função simbólica de protecção da área. Trata-se da representação de chefes guerreiros, imortalizados nas estelas. Todavia, pouco conhecemos destes indivíduos. Seriam habitantes autóctones ou elementos vindos de fora, fazendo parte de correntes migratórias? Os dados arqueológicos parecem apontar para a primeira hipótese, com o desenvolvimento das comunidades locais, através de contactos com outras culturas. Haveria certamente uma sociedade hierarquizada, com divisão do trabalho e elites militares. Pode corresponder ao início do modelo adoptado pelas sociedades estatais.

Por: Vítor Pereira

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