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«Elevação a cidade é um prémio pelo desenvolvimento da Mêda»

João Mourato, Presidente da Câmara Municipal da Mêda, faz um retrato do concelho e comenta as opções de futuro

P – Qual é nesta altura a situação financeira da Câmara da Mêda ?

R – Temos praticamente todos os pagamentos em dia, no entanto, as dívidas a curto prazo são as normais. Não temos, neste momento, dívidas aos bancos e estamos a cumprir com os nossos compromissos, com as obras que temos, com os nossos fornecedores e trabalhadores.

P – Em relação às verbas do Orçamento de Estado para 2007, que comentário merecem?

R – Por aquilo que ouvi, no Orçamento de Estado para 2007 as verbas serão idênticas às deste ano. Portanto, a parte da inflação, o acréscimo de pagamentos de determinados impostos, nomeadamente do IVA, haverá sempre uma redução nesse aspecto.

P – Vê com pessimismo o Orçamento?

R – Eu entendo que, havendo dificuldades no país, elas têm que ser repartidas por todos e não só por alguns. Nesse aspecto, acho que as autarquias também têm que fazer um pouco de esforço, mas, claro, não se vai pedir às Câmaras um sacrifício acrescido para os quais não estão preparadas. Porque, neste momento, as autarquias são realmente o motor do desenvolvimento local e regional e têm determinadas atribuições e funções que têm que desempenhar, pelo que têm que ter meios porque as autarquias são também Estados. Portanto, se realmente não houver financiamento para as autarquias, poderá fica protelado o próprio desenvolvimento local e regional e quem perde é o país.

P – Quais são actualmente as principais necessidades do concelho?

R – O concelho da Mêda tem a particularidade de estar no interior e desde logo aí tem essa dificuldade, a interioridade. Portanto, é penalizador sermos um concelho do interior, por estar longe dos grandes centros, as acessibilidades não são certamente aquilo que desejámos e profetizamos para o futuro. É difícil as pessoas voltarem depois de abandonarem as terras, é difícil o investidor sediar-se na Mêda, como em todo o interior, e temos este tipo de dificuldades, de lutar contra o abandono das populações. Neste momento as pessoas têm infraestruturas, saneamento, electricidade, boas estradas, boas redes de comunicação, só nos está a faltar a grande ligação nacional que é o IP2, que não há forma de arrancar. Por outro lado, as pessoas que abandonaram o concelho há cerca de 40 anos, precisamente por não haver condições de fixação, acabam por não regressar depois do município ter essas condições todas concretizadas, o que é um contra-senso. Perderam-se muitas oportunidades durante todos estes anos e é muito difícil as pessoas regressarem às suas terras. Cinco ou 10 por cento poderão regressar, o que é muito bom, mas é sempre difícil. Dentro da política que temos estado a presenciar por parte do Governo, há um bocadinho de esquecimento do interior, na medida em que não há investimentos. Ainda não temos o IP2, que é fundamental para as pessoas virem com mais segurança e mais rapidez. Não há condições para a fixação das pessoas, porque os impostos são iguais em todo o país e não há algo que discrimine, positivamente, as pessoas de virem para estes concelhos e isso reflecte-se nesta ideia de que era preciso haver mais apoios e financiamentos.

P – Qual é o projecto mais ambicionado a curto prazo pela autarquia?

R – Em termos de obras públicas é a conclusão do IP2, mas com o traçado que consideramos correcto, não com o que está a ser adoptado em termos das Estradas de Portugal. Por outro lado, entendemos que deve ser um troço com as condições de autoestrada. Em termos de município, temos cerca de três projectos com algum folgo, nomeadamente o mercado municipal, que iremos iniciar muito brevemente, a reconstrução e requalificação do campo municipal e a construção de um gimnodesportivo novo. Penso que estas são três etapas decisivas para fecharmos o ciclo dos equipamentos da Mêda. Está também em construção a biblioteca municipal, que terminará no próximo ano, e está em fase adiantada de execução o pólo termal de Longroiva, que é uma obra de grande envergadura e interesse para o município.

P – Das obras que acabou de referir, quais pensa que serão as mais necessárias para o município?

R – Neste momento são estas. Vamos iniciar o mercado, a biblioteca está em fase de execução final e o pólo termal está a ser concluído. Trata-se de três projectos que são grandes sugadores de dinheiro da autarquia e dos financiamentos que temos, embora tenhamos acabado de executar a Estrada Municipal 600 para Trancoso, na parte do concelho da Mêda. Na própria cidade, estamos a executar um novo troço urbano e uma nova avenida, que irá dar acesso à parte Norte e Sul da Mêda. Estamos também com algumas requalificações urbanas de praças, largos e ruas da cidade.

P – Quais são os principais motivos para visitar o concelho?

R – Um dos “ex-libris” do concelho será sempre Marialva, o seu castelo medieval e a Aldeia Histórica, pelo que é importante ser considerada nos roteiros de visita ao concelho. Depois temos também Longroiva, pelas suas águas termais e a construção do novo pólo termal. Sem esquecer a sede do concelho, onde estão sediados equipamentos como a Casa da Cultura, as piscinas municipais, entre outros.

P – O turismo é considerado um sector estratégico?

R – Nós temos de viver com aquilo que temos, por isso é sempre importante chamar aqui pessoas. O castelo de Marialva é visitado por cerca de mil pessoas por mês, contabilizadas, por há algumas visitas que não o são. Portanto, acho que é um dado importante haver um investimento em termos do nosso património e do próprio turismo. Mas há outros motivos. Para além da paisagem, há outras aldeias medievais com alguma história, nomeadamente Casteição, Ranhados e Aveloso, que são localidades cujo passado se deve visitar e conhecer.

P – Qual é o papel da Mêda no distrito da Guarda em termos de desenvolvimento?

R – O concelho está a passar uma fase importante do sector terciário para o sector de serviços e indústria. Com o desenvolvimento da Política Agrícola Comum europeia, a Mêda deixou de ter na agricultura a sua principal fonte de rendimento e essas pessoas passaram a trabalhar nalguns serviços e também na indústria. Agora temos também um valor acrescentado que é o turismo, de que estamos a cuidar e que é algo que não pode ser desperdiçado. Em termos de produções agrícolas, acho que é importante haver um surto de desenvolvimento da própria castanha, que já é um rendimento significativo para alguns agricultores, sem pôr de parte a Região Demarcada do Douro em que está inserida a Mêda.

P – Que benefício trouxe para a Mêda o facto de ter sido elevada a cidade?

R – Benefícios imediatos, certamente que não há em termos de desenvolvimento. A Mêda é elevada a cidade em termos de livre estatuto, um estatuto administrativo que é conferido pelo seu próprio desenvolvimento. E ter sido elevada a cidade é mais um prémio pelo seu desenvolvimento, pelo trabalho feito e por aquilo que realmente se vem fazendo a nível do concelho. Foi um prémio merecido por a Mêda ter dado, nestes últimos anos, um passo em frente em termos de desenvolvimento, não só da cidade, mas do próprio concelho, que está completamente infraestruturado com águas, saneamento, electrificações e estradas. Nestes últimos 20 anos tudo foi devidamente ponderado e concretizado de forma a que as pessoas, os residentes, tivessem uma vida mais digna e melhor bem-estar do que tinham anteriormente.

P – Há quem diga que “mais vale ser uma vila grande do que uma pequena cidade”, como comenta essa afirmação?

R – Eu contraponho isso com aquela velha ideia de que “mais vale ser rainha uma hora do que duquesa toda a vida”. Portanto, acho que é mais importante sermos cidade, embora pequena e com os seus pergaminhos, que ser uma aldeia toda a vida.

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