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Eles Andam Por Aí

Como se sabe, os sistemas complexos tendem para o caos. Não obedecem ao que a nossa pobre lógica esperaria deles e há sempre um pequeno detalhe disposto a fugir à nossa compreensão. A análise fica dificultada e as certezas escondem-se. É claro que a moderna lógica tem isso em conta e foram já estabelecidos modelos que oferecem, senão a verdade, pelo menos um caminho aceitável. Nada de demasiado moderno, que Guilherme de Occam já tinha proposto um método no século XIV: “se há várias explicações igualmente válidas para um facto, então devemos escolher a mais simples” (na versão da Wikipédia). Este princípio da lógica, conhecido hoje como “navalha de Occam”, ajuda a separar as águas em muitas questões. Por exemplo nas teorias da conspiração construídas em volta do 11 de Setembro.

Essas teorias têm várias origens. Desde logo a NET, com a sua legião de solitários levemente psicóticos e sem muito que fazer, com a agravante de servir de meio para amplificar boatos a uma dimensão planetária. Não tardou assim que alguém descobrisse, ou julgasse ter descoberto, que debaixo de um dos aviões (voo 175 da United Airlines, o que se despenhou contra a torre sul do WTC) havia algo parecido com um míssil. Ou que defendesse que o voo 93 (também da United Airlines) tinha sido abatido por um caça bombardeiro, única explicação para se ter encontrado um dos motores do avião a uma distância considerável do resto dos destroços (nem os conspiracionistas defendem, contrariamente a João Morgado, na passada semana neste mesmo jornal, que não apareceram os destroços deste avião). Defendeu-se também que o Pentágono não tinha sido atingido por um avião, mas sim por um míssil. É claro que não se cuidou de dar uma explicação para o facto de não aparecido ainda nem o voo 77 da American Airlines (que na versão oficial atingiu o Pentágono), nem nenhum dos seus passageiros.

Outra origem dessas teorias é evidentemente a agenda de algumas forças políticas. O PCP, por exemplo, adoptou-as como verdade oficial. Nada que Estaline desdenhasse, ele que foi um autêntico precursor do Photoshop e da ciência das verdades relativas e provisórias. Curiosamente, temos aqui o beneplácito da direita mais dura, a do anti-semitismo, a interessada na negação do Holocausto (com maiúscula, se faz favor) e, em consequência, na reabilitação moral do nazismo. Ou não é verdade, dirão os negacionistas do 11 de Setembro, que a Mossad instruiu os judeus que então trabalhavam no World Trade Center para tirarem esse dia de folga?

A verdade é que nenhuma destas teorias da conspiração passou o crivo da análise científica (http://www.popularmechanics.com/science/defense/1227842.html?page=1&c=y), tendo como única resposta a algumas verdades mais duras a negação pura e simples: bem se lhes pode dizer que as caixas negras apareceram, que estão já preparados para, sem hesitar, dizer que é mentira.

Razão têm os editores da Alternet.org (www.alternet.org—41601), de uma esquerda bem mais civilizada que a nossa: “As teorias da conspiração sobre o 11 de Setembro não levam a lado nenhum. E não são necessárias para demonstrar a venalidade da administração Bush. Há inúmeras provas disso à volta de nós, não precisamos de as inventar.”

Sugestões

Um livro: 20 Grandes Conspirações da História, de Santiago Camacho (A Esfera dos Livros, 2006). É fartar, vilanagem! Não perder os capítulos sobre Fátima e sobre o desembarque na Lua de 1969.

Outro: História Virtual, de Niall Ferguson (Edições Tinta da China, 2006). E se a Alemanha Nazi tivesse ganho a guerra? E se não tivesse havido guerra fria, ou JFK não tivesse sido assassinado?

Um site: www.tisp.org—inc_redirect.cfm (o relatório oficial do 11 de Setembro, disponível em PDF para o mundo inteiro).

Uma paranóia inofensiva: avistamentos do Elvis Presley, demonstrativos de que, contrariamente à verdade oficial, não morreu.

Por: António Ferreira

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