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Eleições

Crónica Política

O sistema eleitoral vigente não deixa nem autonomia aos candidatos a deputados para, com legitimidade, apresentarem propostas específicas que não estejam previstas nos programas dos respetivos partidos, nem responsabiliza os mesmos quando decidem ser mais ambiciosos e prometem o que sabem não poder.

Como encarar então os discursos e as propostas dos diversos candidatos a deputados das forças políticas que se apresentam a eleições?

É reconhecido, por força das medidas e da política seguida pelo Governo nos quatro anos difíceis que vivemos, que hoje a economia portuguesa apresenta melhores indicadores, que permitem alimentar com confiança a esperança num futuro melhor.

Conhecidas as linhas orientadoras do novo quadro de financiamento comunitário e sendo reconhecida, por todos, a situação de periferia geográfica e económica do nosso distrito e o drama do recessivo indicador demográfico, que temas seria de expectar que fossem tratados pelos candidatos e os seus respetivos partidos políticos?

Mesmo com a consciência de que serão as grandes questões nacionais que ocuparão a agenda política, não é aceitável se as principais forças políticas concorrentes não tiverem um programa concreto e definido a apresentar que vincule e responsabilize.

O investimento público na linha ferroviária da Beira Alta e a conclusão da reabilitação da linha da Beira Baixa, a diminuição progressiva, mas significativa, do custo das portagens rodoviárias, a conclusão até Seia do IC6, a requalificação, mesmo que revestindo fórmulas empresariais, do Parque da Saúde junto do novo hospital da Guarda, devem ser encaradas como verdadeiras prioridades para o distrito da Guarda.

Mas também questões relevantes para a nossa economia como a dinamização do setor empresarial no quadro da criação de um mercado ibérico transfronteiriço, o combate à sazonalidade do comércio e turismo na região, o estímulo à economia local por efeito de vantajosas políticas fiscais, o apoio à deslocalização efetiva de serviços do Estado e de empresas públicas, o apoio a projetos-âncora, como é o caso, por exemplo, de uma oferta consistente e valorizada do turismo de neve na Serra da Estrela, devem ser tratados nesta campanha.

Mas existe ainda a necessidade de ouvirmos os partidos sobre a urgência de um compromisso de legislatura, independente dos resultados eleitorais, em matérias como a coesão territorial, a natalidade ou a Segurança Social.

É tempo de olhar para os programas dos partidos, de ter critério e racionalidade na hora do voto e exigir, a todos os partidos, mais coerência e mais respeito pelo eleitorado e, acima de tudo, mais sentido patriótico.

É tempo de dar razão ao discurso do Presidente da República, que muitos teimam em desacreditar, mas Cavaco Silva tem razão para exigir dos partidos políticos compromissos e entendimentos de médio e longo prazo.

O que se passa com a demagógica discussão acerca da sustentabilidade da Segurança Social é paradigmática da falta de sentido de Estado dos principais partidos políticos nacionais.

O país precisa de estabilidade institucional é certo, mas ainda mais de estabilidade de políticas em setores nucleares.

Por: Júlio Sarmento

* Ex-presidente da Câmara de Trancoso e antigo líder da Distrital da Guarda do PSD

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