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Eficiência acima de tudo

Desde há uns anos a esta parte que o Ministério da Educação maltrata os docentes. Nada que a cada dia que passa seja uma novidade!… Mas em 20 anos que sou professora nunca vi tanta eficiência!

Acreditem! Nem mesmo quando comecei a exercer (já lá vão uns bons anos… que saudades…) em que não tínhamos Magalhães, as estradas não eram as melhores, as escolas não tinham aquecimento, íamos à Delegação escolar e à Direcção escolar… Mas íamos com vontade, com motivação de trabalhar, de estar com os nossos alunos e… O engraçado é que os alunos aprendiam… respeitavam os mais velhos… os colegas…os pais e claro… os professores! Mas não havia, com toda a certeza, tanta eficiência!

(…)

Após tudo o que foi feito verificou-se, mais precisamente no dia 29 de Outubro, uma situação inédita. Eu diria, se não fosse tão grave, uma situação hilariante. Eis que ao final desse dia surgem na página da DGRHE duas abençoadas circulares que finalmente esclarecem todas as dúvidas às escolas e claro…. Aos professores!

Senão reparem: em 19 de Janeiro de 2007 foi publicado um novo Estatuto da Carreira Docente – Decreto lei 15/2007- que apesar de refutado por todos os Docentes e pelas organizações sindicais que os representam foi publicado. Em 2009 uma nova versão do Estatuto surge – Decreto Lei 270/2009 e após um delicioso acordo assinado por alguns sindicatos surge uma outra versão do Estatuto – Decreto 75/2010de 23 de Junho que está à data em vigor.

Desde Janeiro de 2007 que a carreira docente foi alterada… no entanto, nunca até esse dia algum esclarecimento oficial sobre a transição da carreira foi enviado às escolas ou colocado na página da DGRHE (serviço central que deveria apoiar devidamente os docentes e as escolas) que permitisse clarificar dúvidas quanto à progressão dos seus docentes… Estamos em Novembro de 2010… já lá vão três anos e de repente… por obra e graça do espírito santo surgem duas… não bastava uma… mas duas circulares a clarificar/informar como se processam ou melhor como se deveriam ter processado as progressões desde aquela data.

Irónico não? Mas mais eficiência é apresentada, pois se houve algum docente que erradamente progrediu deverá devolver o valor recebido indevidamente.

(…) Então os serviços administrativos da escola a que o docente pertence muda-o de escalão erradamente (por acaso, até pediu esclarecimento… Mas nunca chegou) e o professor é que tem culpa? Quem deve zelar por quem para si trabalha? Não é o patrão? E neste caso quem é o patrão? O ME! Então o que estiveram os serviços centrais a fazer em três anos? Terão sentido dificuldades de interpretação? Ou será apenas uma estratégia para atrasarem/travarem a progressão dos docentes?

O que era necessário e desejável era que o Ministério da Educação apoiasse as escolas na aplicação do regime de transição entre carreiras, que está em vigor desde Junho, e não que viesse complicar o trabalho das mesmas pondo em causa o seu trabalho e a sua tão proclamada autonomia!

Que país/Governo é este que publica as leis e só ao fim de 3 anos é que emana circulares “esclarecedoras” de diplomas que há data já se encontram alterados ou até mesmo revogados?

(…)

Sou professora por vocação mas devo confessar que neste momento me sinto triste e desmotivada, pois não vou trabalhar como ia há uns anos atrás, com vontade, com ânimo independentemente das condições … A nossa profissão é ensinar/educar, mas cada vez mais a escola é confrontada com novos desafios fazendo muitas das vezes aquilo que compete à família! Hoje sinto que daqui a alguns anos não haverá verdadeiros Professores… haverá apenas quem vai para a escola fazer o que lhe ordenam fazer! …

Maria José, carta recebida por email

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