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«É tempo de acabar com essa maleita na autarquia»

Aires Dinis, candidato da CDU à Câmara da Guarda

P – A Guarda inspira-o, concorre por amor ou está do lado dos guardenses?

R – Sou da Guarda, mais especificamente de Pousade. É isso que dá estimulo ao meu empenhamento político. Toda a gente sabe que participo em várias actividades na cidade, como na revista Praça Velha, também dou o meu contributo na área de economia na Associação Comercial, colaboro com um órgão de comunicação social. Portanto, estou dentro da Guarda, esta é a minha cidade e o meu concelho.

P – O que destaca de negativo no último mandato da autarquia?

R – Embora tenha alguma dificuldade em falar sobre isso, o que mais destaco pela negativa é a lentidão com que são executadas as várias obras da responsabilidade da Câmara. Como o Polis, a Biblioteca Municipal ou a PLIE. Nada avança com o ritmo necessário para estarmos no mundo de uma forma competitiva. A Guarda não é somente uma pequena cidade, mas é uma grande cidade que liga Portugal ao mundo. Nesse sentido, as estratégias políticas impõem que seja um modelo de urbanismo. O Polis devia ter contribuído para esse arranjo urbanístico, mas assim não aconteceu. Foi muito lento e perdeu ambição ao longo do tempo. Quanto à PLIE, não conhecemos bem os seus contornos. E é essa falta de agilização na execução destes projectos que me preocupa. A CDU vai obrigar a cidade a ter um ritmo consentâneo, pois sem ele as coisas acontecem e não apanhamos o comboio. Sendo um leitor por trabalho e por gosto, sinto, há muito tempo, a falta de uma Biblioteca Municipal, uma exigência que já fiz há muitos anos na Assembleia Municipal. Mas ela continua atrasada. Todos estes atrasos devem-se a más programações financeiras e a más contratações com os empreiteiros, esta é uma das falhas da autarquia. É tempo de acabar com essa maleita na Câmara da Guarda.

P – E de positivo?

R – Embora as minhas diversas actividades não me permitam usufruir convenientemente das suas vantagens, destaco o Teatro Municipal da Guarda. É uma iniciativa com alguns defeitos, como a localização, porque está escondido de todos, mas gosto do edifício. Em termos de programação, a selecção é a possível, embora devesse ser mais preenchida para um maior envolvimento da cidade e do concelho porque é um grande espaço que deve ser aberto à fruição de grandes espectáculos. Por outro lado, é importante que seja feita uma articulação entre o TMG e outros equipamentos culturais.

P – Quais são as suas propostas?

R – Tenho propostas em linhas gerais que depois vão ser concretizadas segundo uma estratégia previamente delineada. Em primeiro lugar, a questão da solidariedade e da coesão social. A segunda linha é a aposta na sociedade do conhecimento e na cultura, que é uma aposta europeia e que a Guarda deve integrar e seguir como traço dinamizador. Outra é a questão da saúde e do ambiente. Como coroar disto tudo, destaco a questão da competitividade das empresas, quer na área agrícola, comercial ou industrial. A solidariedade, o conhecimento, a saúde ambiental e a competitividade são as “apostas-chaves”.

P – Também defende uma auditoria às contas da Câmara?

R – Uma auditoria é sempre necessária. Acredito que o mais importante é ter uma atitude permanente de consultar as contas com regularidade. Há presidentes de Câmara que apostam nesta estratégia, como Rui Rio, na Câmara do Porto, que conseguiu controlar as suas contas. Ou na Câmara de Beja, que concluiu o Polis cumprindo todos os seus desígnios, com menos custos do que o previsto. Ou ainda em Almada, que fez um Teatro Municipal de elevada qualidade com um custo muito baixo. Todos estes exemplos podem ser seguidos na Guarda, pois devem-se fazer as coisas com o mínimo de custos e o máximo de controlo das despesas para que não haja derrapagens. Tenho notícias de algumas pequenas malandrices que se fazem por aí e de que nós próprios podemos ser vítimas. Mas cabe às Câmaras fiscalizar essas situações. Por isso, as contas têm que ser bem geridas e bem analisadas.

P – Já está esclarecido quanto ao défice da Câmara da Guarda?

R – Conheço o que foi apresentado no documento camarário. Nada mais. Por isso seria importante eleger um vereador da CDU, para podermos ter um acesso mais próximo às contas da Câmara, e não só. O défice rondará cerca de 40 a 50 milhões de euros. Comparando com outras autarquias do país, não é a mais endividada. Mas não deixa de ser muito. Este aumento do défice provém de dinheiros mal gastos. Há obras a mais, mau controlo dos projectos, mau controlo dos fornecedores, sucessivas falências dos empreiteiros e, tudo isto somado, contribui para o aumento da dívida. Isto significa que se gasta demasiado dinheiro com determinadas obras, enquanto há outras actividades e prioridades que são postas de parte.

P – O que acha da situação da Delphi?

R – A Delphi é um problema nacional e internacional. Segundo os especialistas, a indústria automóvel está a atravessar uma grave crise a nível mundial. E esses problemas têm repercussões locais. Uma das questões fundamentais, e que os economistas defendem, é que nenhuma empresa deve concentrar os seus investimentos num só ramo. Também uma cidade e um concelho não deve concentrar todo o seu esforço numa única empresa. O problema da Delphi resolve-se facilitando a sua vida e viabilizando no que for preciso, mas também apoiando outras empresas que, em conjunto, formam a coesão e a estabilidade da vida social e económica da Guarda. Não devemos fazer um drama desta situação. A Câmara deve apostar em novos produtos, novas formas de criar empregos e empresas no concelho.

P – Acha que as empresas municipais criadas na Guarda têm alguma utilidade ou são apenas meras agências de emprego?

R – Alguns políticos pensaram que as empresas municipais podiam ser uma solução. Mas como todas as boas ideias, nem tudo corre bem. Muitas dessas empresas existem para criarem empregos e na maioria das vezes não têm o cuidado necessário na gestão e no recrutamento do pessoal. Mas se funcionassem de uma forma mais transparente até podiam ser uma mais-valia. Na Guarda há uma empresa de desporto e outra cultural, mas ainda há espaço para mais uma empresa de transportes colectivos, por exemplo. Acredito, que as empresas e os serviços públicos podem dar bons resultados, o fundamental é a gestão que ali se faz.

P – Toda a gente fala em necessidade de mudança na Guarda. Mas as coisas não mudam? O que se passa na sua opinião?

R – Não é só a Guarda que tem que mudar, é todo o país. Nós temos assistido a uma alternância entre PS e PSD, este último com a ajuda do CDS/PP. E isso não contribui em nada para a mudança. Apesar das maiorias absolutas parlamentares, todos os governos têm saído muito instáveis. O problema é que a alternativa não está no PS, nem no PSD, mas na CDU. Somos uma alternativa para o país e para a Guarda, pois somos a garantia da competência, da honestidade e do trabalho.

P – O que pensa: novo Hospital ou Hospital novo?

R – Acho que “Uns são filhos e outros são enteados”! O engenheiro Sócrates anunciou mais um hospital em Vila Franca de Xira, porque quer apostar nas zonas metropolitanas. E esqueceu-se que a Guarda precisa de um hospital, porque também temos doentes e doenças. Não podem continuar a gastar dinheiro no litoral e esquecerem-se do interior. Eu não faço “finca-pé” na questão do novo hospital ou hospital novo. Um hospital pode ser antigo, como o Santo António, no Porto, mas pode ser adequado às necessidades tecnológicas com sucessivas remodelações. Porém, acho que devemos ter ambição para o nosso hospital de modo a termos tudo o que é possível dentro da tecnologia médica.

P – Na sua opinião, como será a Guarda daqui a quatro anos?

R – Imagino-a consoante quem ganhar. Se eu ganhar ou tiver um bom resultado, a Guarda será uma cidade mais ágil nos seus investimentos autárquicos, que vai potencializar a iniciativa dos cidadãos – tanto no campo social, como empresarial -, e que terá todos os equipamentos de acesso às sociedades do conhecimento a funcionar, tanto nas cidades, como nas aldeias. Será também uma cidade ligada ao mundo, graças à plataforma logística, e ficará mais bonita, porque faremos o que o Polis não fez, integrando igualmente os fluxos turísticos. Por fim, será uma cidade competitiva no campo da saúde.

P – O que é para si um bom resultado nestas eleições?

R – Seria ganhar a Câmara. Um resultado intermédio seria ter um lugar como vereador. Perante a recepção das pessoas, acho que vamos ter bons proventos, até porque os municípes estão desiludidos com o PS e o PSD. Acho por isso que as pessoas vão ter o bom-senso de votar CDU para criar uma alternativa para a Guarda.

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