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É sempre assim

É sempre assim no Verão. É sempre assim todos os anos. Altura em que Nossa Senhora, por uma vez, acaba por não ser – a não ser para o nosso ministro da Defesa – a personagem mais requisitada.

Sim porque no Verão perde sempre para essa casta de gente brava que são os Bombeiros Voluntários e este ano não foi excepção. Infelizmente, para eles e para o país, para muito pior.

E mesmo assim, do país real alheia ao seu esforço ouviram-se muito mais críticas aos Bombeiros do que às autoridades. Essas mesmas que se revelaram verdadeiramente incompetentes.

Mas não vou aqui referir-me às palavras (sábias?) de Mário Soares; nem às baboseiras de Amílcar Theias; nem ao outro que não obstante o elevadíssimo número de mortos (porque um já era demais) achou ainda assim que a coisa até nem correu muito mal.

Nem vou aqui falar da nossa inqualificável Ministra das Finanças que teima, como certos animais, em não olhar para os lados na sua já, a meu ver, ridícula cruzada contra o défice orçamental.

Também me vou abster de comentar o lamentável, mas ainda assim infindável, ror de asneiras a que fomos obrigados a assistir e proferidas na rádio, televisão e imprensa por parte dos próprios responsáveis dos Bombeiros e Protecção Civil.

Há dias assim e aquela gente não devia era ter saído à rua durante semanas.

Não, vou apenas referir a abnegação, espírito indomável e incansável daqueles homens e mulheres “soldados da paz” que, com o seu esforço desmedido, mal pago e ainda pior agradecido, evitaram que a calamidade atingisse proporções ainda mais dramáticas. Não nos podemos esquecer que foram eles no terreno que evitaram o pior e foi por causa deles que ainda assim a vida de milhares e milhares de pessoas não teve um desfecho muito pior.

E o pior é que foram eles, poucos, cansados e mal equipados, que muitas vezes foram alvos das mais diversas críticas por parte daqueles a quem tentavam salvar.

É bem verdade que não se pode agradar a gregos e a troianos, mas deve-se reconhecer mérito a quem muitas vezes, pondo em risco as suas próprias vidas, o tenta fazer.

Daí não me interessar saber quantos “soldados da paz” andaram efectivamente no terreno, se três mil se trezentos mil. É aos que lá andaram que se há-de agradecer. Vezes sem conta. E fazer de conta, durante um tempo, que todos os outros, pura e simplesmente, não existem.

Por: J. Almeida Faria, Natural de Celorico da Beira, 34 anos, advogado, inicia nesta edição a sua colaboração com este jornal.

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